Sou um caçador de longa data e Monster Hunter Wilds era o meu jogo do ano (e pode ser que ainda seja). Fazer este review é uma grande satisfação. Com melhorias únicas e um combate ainda mais dinâmico e evoluído, este é o título ideal para novos caçadores — mas que pode decepcionar veteranos. Neste review, explico por que Monster Hunter Wilds é uma faca de dois gumes, ainda que tenha tudo para se tornar um dos jogos mais vendidos da história da Capcom.
Narrativamente, Monster Hunter Wilds representa uma grande evolução em relação aos títulos anteriores. Assumimos o papel de um caçador veterano que chega às Terras Proibidas, uma nova região repleta de criaturas perigosas e fenômenos naturais misteriosos. A fauna local está agitada devido a uma energia desconhecida, e cabe a nós investigar a origem dessa perturbação e restaurar o equilíbrio do ecossistema. Apesar do ponto de partida lembrar bastante o de Monster Hunter: World, o jogo se diferencia com a introdução de Nata, uma criança perdida que resgatamos logo no início. Nata possui uma conexão enigmática com Arkveld, o monstro principal do jogo, sendo peça central do enredo — assim como Nergigante foi no World.
Ao longo da campanha, descobrimos segredos sobre civilizações antigas, o passado de Nata e o que está realmente afetando as Terras Proibidas. Um dos aspectos mais imersivos é o fato de nosso personagem agora possuir diálogos e estar completamente dublado em português. Ver o protagonista se expressando, em vez de apenas acenar com a cabeça como em Iceborne, fortalece o vínculo que criamos com ele. A dublagem em português do Brasil é outro ponto forte: fluida, bem interpretada e um marco para a franquia em território nacional.
No entanto, a narrativa não é isenta de problemas. Apesar da ambição e do novo enfoque, os personagens secundários carecem de carisma e, em muitos momentos, soam forçados ou mesmo irritantes. Sempre que a trama parece ganhar profundidade, ela é interrompida por uma batalha — o que prejudica o ritmo e diminui o impacto emocional de certas cenas.
O combate, por outro lado, está mais fluido do que nunca. Monster Hunter Wilds mantém a essência estratégica da série, mas agora conta com o novo Modo Foco, que permite realizar ataques precisos em partes feridas dos monstros. Essas áreas danificadas brilham em vermelho, incentivando golpes certeiros que deixam os monstros vulneráveis para punições brutais. Além disso, as 14 armas clássicas retornam com novos movimentos e ajustes que melhoram sua acessibilidade. O Arco está mais ágil, enquanto a Lâmina Dínamo e o Espadão se tornaram mais versáteis e adaptáveis.
Uma das grandes novidades é a possibilidade de levar duas armas por caçada, trocando-as por meio do seu Seikret. Isso oferece liberdade tática e torna cada caçada mais dinâmica, permitindo adaptação em tempo real conforme o comportamento do monstro.
Entretanto, essa maior acessibilidade cobra um preço. Wilds é, até agora, o jogo mais fácil da franquia. Mesmo em High Rank, a dificuldade é reduzida, com lutas menos punitivas e várias mecânicas que diminuem a tensão típica dos confrontos. Isso pode agradar novatos, mas para veteranos, a sensação de conquista foi enfraquecida. A progressão contribui para isso: não há mais a mesma necessidade de farmar materiais com frequência, tornando a obtenção de armas e armaduras mais simples e o endgame menos envolvente — reservado quase que exclusivamente para quem quer caçar coroas ou completar troféus.
A jogabilidade é beneficiada por um mundo totalmente aberto e interligado, com biomas que se conectam organicamente. O clima dinâmico afeta diretamente a fauna, flora e o comportamento dos monstros. O nível de detalhe impressiona, com formações rochosas e árvores que podem ser destruídas durante a batalha, alterando o terreno e abrindo novas possibilidades estratégicas. O ciclo de dia e noite também tem impacto real na jogabilidade, influenciando tanto a exploração quanto a agressividade das criaturas.
Neste contexto surge o Seikret, uma montaria veloz que transporta armas, itens e serve como ponto de troca. Ele é útil nas caçadas, mas também representa um dos maiores problemas do jogo: com sua movimentação automatizada, a exploração perde parte de seu propósito. Embora seja possível evitar seu uso, seria mais interessante se ele funcionasse como os Amicães de Rise, integrando-se melhor à jogabilidade e oferecendo mais controle ao jogador.
Também há a adição das bases temporárias, que podem ser montadas durante a exploração, mas devem ser defendidas, pois monstros podem destruí-las. Essa mecânica adiciona uma camada estratégica interessante, principalmente em caçadas prolongadas.
Os monstros são, como sempre, o grande destaque. Monster Hunter Wilds apresenta novas criaturas, como os cefalópodes, que introduzem mecânicas únicas e complexas, além de trazer de volta vários monstros clássicos. Arkveld, o monstro principal, é um verdadeiro teste de habilidade e destaca-se tanto pelo desafio quanto pelo design. O comportamento das criaturas é mais natural, com disputas territoriais, reações climáticas e padrões de sono, caça e fuga aprimorados.
A inteligência artificial, no entanto, é inconsistente quando aplicada aos caçadores que nos acompanham. Eles pouco contribuem em batalhas difíceis e não podem ser personalizados ou aprimorados, o que limita bastante seu potencial de apoio — uma oportunidade perdida.
No que diz respeito à personalização, o jogo acerta em cheio. O editor de personagens está mais completo do que nunca, oferecendo liberdade estética real. As armas mantêm o sistema de árvores evolutivas, mas agora incluem materiais únicos obtidos através de interações ambientais e condições climáticas. Algumas armas têm bônus ativados em situações específicas, como ataques mais fortes durante tempestades ou aumento de dano em monstros encharcados.
As armaduras estão mais variadas, tanto visual quanto funcionalmente. Agora é possível aplicar modificações cosméticas e usar o sistema de transmog desde o início, algo muito pedido pela comunidade. Runas especiais também podem ser adicionadas para adaptar cada peça ao seu estilo de jogo, oferecendo resistências elementais, aumento de buffs ou outras vantagens. Um detalhe visual interessante é como o ambiente interage com as armaduras: partículas de areia grudam durante tempestades e certos equipamentos brilham em temperaturas extremas, aumentando a imersão.
Por fim, os gráficos de Monster Hunter Wilds são os melhores da franquia. Os ambientes são vivos, densos e reativos, com uma fauna que se move de forma orgânica e monstros com animações fluidas e detalhadas. Apesar dos problemas na beta, o jogo roda bem no PS5, com boa taxa de quadros mesmo nas batalhas mais intensas. Pequenas quedas ocorrem quando há muitos efeitos na tela, principalmente durante tempestades ou confrontos contra múltiplos monstros, mas não comprometem a experiência geral.
Agradecimentos a Capcom que nos enviou o jogo para a produção do review!
Conclusão
Monster Hunter Wilds é, sem dúvida, o melhor ponto de entrada para novos caçadores. Ao mesmo tempo, é uma experiência que pode deixar os veteranos com sentimentos mistos. Sua acessibilidade, narrativa fortalecida e visuais deslumbrantes são dignos de elogio. Mas sua dificuldade reduzida, a exploração automatizada e a falta de profundidade em certas mecânicas deixam um gosto agridoce para quem esperava um desafio à altura de World ou Iceborne. A Capcom pode — e deve — ajustar isso com futuras atualizações e conteúdos pós-lançamento. Até lá, Wilds é um jogo brilhante, mas que caminha entre a caça épica e a conveniência moderna.
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