Review | SaGa Frontier 2 Remastered – O retorno brilhante de um RPG injustiçado

Review | SaGa Frontier 2 Remastered – O retorno brilhante de um RPG injustiçado

Jogar videogame desde o final da década de 90 tem um efeito curioso: a nostalgia bate forte. A gente relembra grandes clássicos que marcaram a infância ou adolescência, e ao revisitar esses títulos, a sensação é única. Felizmente, muitos desses jogos estão voltando com tudo, seja por remakes, remasterizações ou portes. E esse é exatamente o caso de SaGa Frontier 2 Remastered.

Lançado originalmente em 1999, SaGa Frontier 2 é parte de uma das franquias de JRPG mais queridas e peculiares da Square Enix. Ao rejogar agora, mais de duas décadas depois, percebi o quanto o jogo é profundo, desafiador e surpreendentemente divertido. A remasterização entrega uma experiência modernizada, mas sem perder o charme único do original.

A história se passa em Sandail, um mundo rico e vibrante, e gira em torno de dois protagonistas: Gustave XIII, um herdeiro rejeitado que busca recuperar seu direito ao trono, e William Knights, um jovem determinado a desvendar o assassinato de seus pais. As trajetórias de ambos se entrelaçam aos poucos, construindo uma narrativa multifacetada, repleta de reviravoltas, conspirações e momentos de grande impacto emocional.

O ponto alto da narrativa é justamente sua estrutura não linear. Ao invés de seguir um caminho fixo, o jogador escolhe entre diferentes eventos que se passam em anos e locais distintos. Isso cria uma linha do tempo única para cada jogador e oferece uma sensação vívida de passagem do tempo, permitindo acompanhar o crescimento e as consequências das ações dos personagens. No entanto, essa liberdade também pode confundir. Em alguns momentos, é fácil pular eventos importantes sem perceber, o que pode prejudicar o entendimento geral da história. Ainda assim, o sistema de timeline ajuda a organizar os acontecimentos, e incentiva a exploração cuidadosa de cada missão.

Outro destaque está nos personagens secundários. São muitos, e todos têm papéis relevantes na trama — não só na história, mas também nos combates. Na versão remasterizada, novas cenas foram adicionadas, aprofundando as motivações desses personagens e enriquecendo ainda mais a experiência. E claro, não dá para deixar de citar o vilão Egg — um antagonista com ares sombrios, mas que surpreende com um toque de humor que quebra a tensão em momentos certos, sem perder a ameaça que representa.

O sistema de combate de SaGa Frontier 2 é único até hoje. Esqueça as fórmulas convencionais de JRPGs. Aqui, o jogador precisa pensar como um verdadeiro estrategista. Cada ação consome recursos específicos — Life Points, Skill Points e Weapon Points — que precisam ser gerenciados com inteligência. Sair atacando sem pensar é um erro fatal. E, para complicar ainda mais, algumas batalhas mudam dependendo da formação do grupo, incluindo lutas solo e contra chefes com estratégias próprias. Tudo isso exige atenção e planejamento constante.

O jogo também introduz um sistema de herança de habilidades e armas. Novos personagens herdam parte do poder dos veteranos, o que evita que entrem como peso morto no grupo. Essa mecânica é fundamental para manter o ritmo da aventura, sem a necessidade de grind excessivo sempre que um novo aliado se junta à equipe.

Visualmente, SaGa Frontier 2 Remastered é um espetáculo. A arte tradicional em aquarela foi preservada e agora brilha em resolução widescreen 16:9, mais viva e detalhada do que nunca. Os cenários lembram livros ilustrados, com um charme que poucos jogos conseguiram igualar. Essa estética não só impressiona, como também contribui diretamente para a imersão, tornando Sandail um mundo que parece realmente ter vida. Em alguns momentos, é verdade, o uso de upscaling por IA nos fundos pode causar uma leve discrepância entre personagens e cenário, criando pequenas inconsistências visuais. São casos pontuais, mas perceptíveis para olhos mais atentos.

Outro ponto que merece destaque é a trilha sonora remasterizada, composta por Masashi Hamauzu. As músicas ganham nova vida, com mais profundidade e nitidez, transportando o jogador diretamente para as emoções de cada área — seja o aconchego de uma vila pacífica, ou a tensão de um confronto épico. O trabalho sonoro é essencial para a atmosfera do jogo e funciona como uma ponte emocional direta com a nostalgia.

Já a interface, que era um dos grandes problemas do original, foi completamente reformulada. Agora, os menus estão mais limpos e intuitivos, facilitando a navegação e o gerenciamento de equipamentos e personagens. Além disso, a inclusão da opção de acelerar os combates aleatórios é uma adição muito bem-vinda, especialmente para quem quer poupar tempo durante o grind ou revisitar áreas.

Apesar de todas as melhorias, SaGa Frontier 2 Remastered ainda carrega algumas heranças incômodas do passado. O jogo explica pouco sobre suas próprias mecânicas — especialmente as de combate. Muitos aprendizados vêm na base da tentativa e erro, o que pode gerar frustração, principalmente nos primeiros capítulos. A navegação também pode ser confusa, com mapas pouco claros e sem indicações evidentes de onde ir. Isso pode levar o jogador a se perder com frequência ou mesmo a deixar missões importantes passarem despercebidas.

Agradecimento a Square Enix que nos enviou o jogo para a produção do review.

Conclusão

SaGa Frontier 2 Remastered traz uma remasterização incrível de um clássico JRPG, com gráficos melhorados, preservando a arte desenhada à mão e a trilha sonora de Masashi Hamauzu. A narrativa não linear e o sistema de combate estratégico, que exige gerenciamento de recursos e herança de habilidades, oferecem uma experiência única. Contudo, o jogo ainda peca pela curva de aprendizado íngreme, navegação confusa e pequenas inconsistências visuais. Mesmo com esses defeitos, a remasterização é um grande sucesso, agradando tanto fãs antigos quanto novos jogadores.

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