Review | Assassin’s Creed Shadows – Belo e intenso, mas preso a velhos vícios da franquia

Review | Assassin’s Creed Shadows – Belo e intenso, mas preso a velhos vícios da franquia

Assassin’s Creed Shadows chegou cercado de expectativa após diversos adiamentos — e, felizmente, boa parte desse tempo extra resultou em um jogo visualmente incrível e com uma das narrativas mais envolventes da série. No entanto, ele tropeça ao repetir fórmulas desgastadas e pecar por excesso.

A narrativa de Shadows é, sem dúvidas, seu maior destaque. Pela primeira vez na franquia, controlamos dois protagonistas com histórias e motivações opostas, mas que se cruzam de forma natural e poderosa.

Yasuke, um ex-escravo que se torna samurai sob o comando de Oda Nobunaga, vive uma jornada de autoconhecimento, tentando descobrir quem é além do rótulo de subordinado. Já Naoe, uma ninja determinada, busca vingança após seu vilarejo ser destruído em uma campanha liderada por Yasuke. A relação entre os dois, inicialmente marcada por confronto, evolui com profundidade. Momentos dramáticos e bem escritos ajudam a criar empatia por ambos, com destaque para os conflitos internos de Naoe e o crescimento emocional de Yasuke.

O jogo ainda apresenta um grupo de vilões, os Onryos, com visuais únicos e confrontos marcantes. Ao longo da campanha, surgem aliados como Tomiko, Junjiro e Sorin, que complementam bem a trama. Embora o roteiro tenha alguns clichês, ele se mantém coeso e entrega momentos emocionantes — algo raro nos últimos títulos da franquia.

A jogabilidade segue a fórmula dos últimos jogos da série (Valhalla, Origins e Odyssey), com sistema de progressão, árvore de habilidades, equipamentos e upgrades. A principal novidade é a alternância entre dois estilos distintos:

  • Naoe aposta na furtividade, parkour e ferramentas ninjas como kunais, shurikens, bombas de fumaça e a clássica hidden blade. Ideal para quem prefere eliminar inimigos silenciosamente.
  • Yasuke é o oposto: um tanque que desfere golpes devastadores com katana e armas pesadas, capaz de enfrentar diversos inimigos ao mesmo tempo com parrys e ataques pesados.

Ambos evoluem separadamente, com árvores de habilidades específicas — Naoe pode se especializar em stealth e agilidade, enquanto Yasuke foca em combate direto.

Apesar dessa variedade, o combate ainda é previsível e pouco desafiador. Os inimigos têm padrões simples e são fáceis de manipular, principalmente quando jogamos com Yasuke. O sistema de parry, embora funcional, não tem o peso ou a precisão de jogos como Sekiro. Outro problema recorrente é o sistema de objetivos, que continua pouco intuitivo e, por vezes, confuso. Missões principais e secundárias se misturam sem clareza, o que prejudica o ritmo da jornada.

Assassin’s Creed Shadows aposta pesado na quantidade de conteúdo, mas erra na dosagem. O mapa é vasto, dividido por regiões com níveis recomendados e atividades variadas. Há contratos, desafios de stealth, coleta de recursos, refúgios secundários, pontos de meditação e outras tarefas espalhadas pelo mundo. No papel, isso soa ótimo. Na prática, o excesso de ícones e atividades sem peso narrativo torna a exploração cansativa e repetitiva. Muitas missões secundárias servem apenas para ganho de experiência ou melhorias de equipamento, sem impacto real na história.

O jogo também traz mecânicas interessantes, como a base principal (o esconderijo), que pode ser melhorada com recursos, e refúgios espalhados que servem como mini-bases. É possível enviar aliados em missões automáticas, armazenar itens e aceitar contratos. Além disso, há atividades como Kuji-Kuri, Kata, templos, trilhas secretas e pontos de meditação que mergulham o jogador na cultura japonesa. Esses elementos são bons para contextualizar o cenário histórico, mas acabam diluídos no meio do conteúdo excessivo.

Visualmente, Shadows é o jogo mais bonito da franquia até agora. O Japão Feudal é retratado com um nível de detalhe impressionante: vilarejos, templos, florestas, montanhas e rios vivos e vibrantes. Cada região tem sua própria identidade visual, com iluminação dinâmica, mudanças climáticas e ciclo de dia e noite bem integrados à exploração.

Os modelos dos personagens são extremamente expressivos. Destaque para Naoe, cujas expressões faciais durante cenas de dor, raiva ou emoção são marcantes. Yasuke também impressiona, com texturas realistas e postura imponente. As armaduras e armas dos samurais chamam atenção pelo detalhamento, reforçando a ambientação histórica. O combate é brutal: há desmembramentos, jatos de sangue e decapitações, com um nível de violência gráfica raro na série — tudo com um visual polido e impactante.

A dublagem em PT-BR é um dos grandes acertos do jogo. Erika Kou, como Naoe, transmite com precisão todas as emoções da personagem — da raiva contida à tristeza profunda. Já Wellington Lima dá voz a Yasuke com equilíbrio entre autoridade e vulnerabilidade, reforçando seu arco de evolução pessoal. As performances não apenas complementam as cenas, como realmente elevam a narrativa, tornando a experiência ainda mais imersiva para o público brasileiro.

No PS5, Assassin’s Creed Shadows roda de forma estável no modo desempenho. Durante toda a campanha, não houve quedas de FPS ou bugs que atrapalhassem a jogabilidade. Carregamentos são rápidos, transições de cenas são suaves e o jogo responde bem a comandos — algo que nem sempre foi garantido em lançamentos anteriores da série.

Agradecimento a Ubisoft que nos enviou o jogo para a produção do review!

Conclusão

Assassin’s Creed Shadows é um espetáculo visual e narrativo, com personagens marcantes e uma ambientação impecável do Japão Feudal. No entanto, falha ao insistir em fórmulas antigas, excesso de atividades repetitivas e combate previsível. Apesar de não inovar, entrega uma experiência sólida e emocionalmente envolvente para fãs da franquia. Quem busca algo novo pode se frustrar, mas quem ama o universo da série encontrará aqui um dos capítulos mais cativantes em termos de história e ambientação.

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Uma resposta para “Review | Assassin’s Creed Shadows – Belo e intenso, mas preso a velhos vícios da franquia”

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