Quando a SEGA e a RGG Studio anunciam um spin-off de Yakuza protagonizado por Goro Majima como um pirata em pleno Havaí, a reação imediata é pensar: “isso não vai fazer o menor sentido — mas eu preciso jogar.” E foi exatamente isso. Like a Dragon: Pirate Yakuza in Hawaii é um caos controlado, um delírio tropical regado a rum, porradaria e minigames malucos. E ainda assim, é uma das experiências mais divertidas e inesperadamente cativantes da franquia.
Com humor afiado, combate estiloso, um Majima mais humano do que nunca e aquele carisma absurdo que só essa série entrega, esse spin-off prova que dá, sim, para colocar yakuza e piratas no mesmo jogo — e fazer funcionar.
A história começa com Goro Majima acordando em uma ilha remota do Havaí, sem memória, sem rumo e com uma única certeza: ele precisa se tornar um pirata lendário. O jogo abraça essa premissa absurda com gosto, levando Majima por uma jornada de autodescoberta, caça ao tesouro e amadurecimento. Sim, amadurecimento.
Durante a aventura, conhecemos Noah, um jovem sonhador que deseja viver uma vida de aventuras no mar. A química entre ele e Majima é imediata, funcionando como um elo emocional da narrativa. Majima, mesmo sendo aquele maluco de sempre, assume o papel de mentor — nem sempre exemplar — e nos mostra um lado mais humano, cheio de reflexões sobre o passado e o que significa seguir em frente.
Apesar da trama principal ser envolvente, o desenvolvimento das histórias secundárias deixa a desejar. Muitas side quests possuem potencial emocional, mas acabam se resolvendo rápido demais ou sem um aprofundamento adequado. Isso gera uma certa quebra de ritmo e faz com que parte do conteúdo pareça superficial se comparado à campanha principal.
O combate segue a tradição da franquia: estiloso, exagerado e absurdamente divertido. Majima conta com dois estilos de luta:
- Cachorro Louco – clássico da série, focado em agilidade e ataques rápidos com adagas;
- Cão do Mar – sua persona pirata, onde ele empunha duas espadas e incorpora o espírito de um capitão destemido.
Além disso, há um arsenal criativo de armas secundárias: gancho retrátil, pistola para ataques à distância e os Instrumentos Negros, relíquias que permitem invocar criaturas insanas para lutar ao seu lado.
No entanto, a inteligência artificial dos inimigos é um ponto fraco da jogabilidade. Em vários combates, adversários agem de forma previsível e sem reação à mudança de estratégias, o que diminui a sensação de desafio, principalmente nas lutas contra capangas comuns. Em chefes, o design é mais caprichado, mas ainda assim, alguns padrões se repetem com frequência.
A progressão por meio da árvore de habilidades é bem estruturada, oferecendo upgrades para os estilos de luta e atributos. O crescimento de Majima é constante e gratificante, incentivando a experimentação e o domínio das duas formas de combate.
Um dos sistemas mais criativos e divertidos do jogo é o de gestão do navio Goromaru. Personalizar armamentos, velocidade, resistência e tripulação é essencial para enfrentar outras embarcações e explorar o oceano do Havaí. As batalhas navais são dinâmicas, e exigem decisões táticas para não ser afundado no meio de tempestades ou por armadas rivais.
Porém, o jogo peca na repetição de certos encontros navais, que após certo tempo começam a parecer variações mínimas de confrontos anteriores. Além disso, a ausência de variações climáticas ou surpresas em alto-mar acaba tornando a exploração oceânica mais previsível do que poderia ser.
Mesmo com esses deslizes, controlar o Goromaru, recrutar tripulantes e capturar piratas adversários é uma das partes mais viciantes do jogo — e uma ótima forma de ganhar dinheiro e recursos.
Como todo bom Like a Dragon, o jogo está recheado de minigames e side quests que carregam aquele humor maluco que só a franquia sabe fazer. Há competições de dardos, jogos de azar, desafios de navegação, pescaria com criaturas marinhas gigantescas e até um minigame de mistura de rum, que é tão ridículo quanto divertido.
Apesar disso, é justamente nessa parte que a repetitividade mais afeta a experiência. Muitos minigames e missões paralelas seguem estruturas muito semelhantes e, após algumas horas, podem cansar. Mesmo atividades criativas como caça ao tesouro e pesca lendária perdem impacto por falta de variedade nas recompensas e mecânicas.
Felizmente, há formas de manter a motivação alta: o sistema de caça de recompensas é um ótimo desafio, assim como o Coliseu, onde Majima enfrenta séries de batalhas contra capitães e tripulações inteiras. A cereja do bolo? Um chefe extra que aparece no capítulo 4 e realmente exige domínio total das mecânicas de combate.
Visualmente, Pirate Yakuza in Hawaii é um espetáculo. As ilhas tropicais, florestas densas, praias e cidades costeiras são vibrantes e detalhadas. A água do oceano, as partículas na vegetação e os efeitos de luz natural ajudam a criar um cenário encantador.
Os modelos de personagens são expressivos e bem animados, com destaque para as caretas, gritos e olhares insanos do próprio Majima. As cutscenes seguem o alto padrão da série, com ótima direção e dublagem caprichada.
O desempenho técnico, no geral, é sólido, mas há quedas de taxa de quadros em momentos de combate intenso ou em áreas muito povoadas, principalmente no PS5. Embora não chegue a quebrar a experiência, essas quedas já me causaram mortes em batalhas mais difíceis, o que pode ser frustrante, especialmente em confrontos contra chefes.
A música é um dos grandes trunfos do jogo. Composta por Hideki Sakamoto, a trilha mistura a sonoridade clássica da franquia com instrumentos marítimos e ritmos tropicais, criando uma vibe única de pirataria nonsense. As faixas de combate são intensas, enquanto as músicas de navegação trazem aquela sensação de liberdade e aventura.
O design sonoro também merece elogios: ondas, tempestades, vozes da tripulação e sons do navio ajudam a compor um mundo imersivo e cheio de personalidade.
Agradecimento a SEGA que nos enviou o jogo para a produção do review!
Conclusão
Like a Dragon: Pirate Yakuza in Hawaii é um delírio criativo que mistura ação, humor e pirataria de forma inusitada e cativante. Apesar de problemas com repetição e IA fraca, entrega uma experiência divertida, estilosa e cheia de carisma. Majima brilha em um dos papéis mais humanos da franquia, com ótimos sistemas e trilha sonora marcante.
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