Review | Hirogami – Uma aventura diferente, mas repetitiva

Após despertar a atenção dos fãs de jogos independentes, Hirogami chega ao PlayStation 5 entregando uma aventura de ação e plataforma com toques criativos de puzzle, transformações e um estilo artístico marcante. Com uma narrativa sutil, mas envolvente, o título se destaca pela jogabilidade baseada em dobraduras de papel e pela constante evolução do protagonista, Hiro, em sua missão para salvar seu vilarejo tomado pelo flagelo.

A história acompanha Hiro, que, após ter suas formas de dobraduras roubadas, parte em uma jornada pelos santuários para recuperá-las e enfrentar a corrupção que ameaça seu povo. Durante a campanha, ele recebe o apoio de personagens como Shiori e Ruz, que não apenas fornecem itens importantes, mas também funcionam como suporte emocional para impulsionar Hiro em sua missão. Ao longo do caminho, novas habilidades e transformações vão sendo desbloqueadas, ampliando significativamente as possibilidades de exploração.

A primeira transformação é a do tatu, uma forma simples, mas eficaz para o início da aventura. Com ela, Hiro pode rolar pelo cenário, destruir obstáculos e atacar inimigos. Conforme avança, o jogador desbloqueia formas mais complexas, como a do sapo — que permite saltos mais altos e o uso de um cuspe gosmento para paralisar inimigos e interagir com o ambiente — e a do avião de papel, usada em fases específicas, funcionando como um minigame de navegação aérea com desvio de obstáculos, coleta de itens e ataques com dardos. Cada forma possui habilidades únicas, algumas das quais só são acessadas com upgrades adquiridos ao longo da jornada.

Apesar de o combate estar presente, Hirogami brilha mesmo em suas sequências de plataforma e resolução de puzzles. A alternância entre formas é essencial para superar os desafios dos cenários, que exigem criatividade e atenção por parte do jogador. A arma principal de Hiro, o Leque Dourado, emite rajadas de vento que causam dano e eliminam o flagelo do ambiente. Com o tempo, o leque recebe melhorias como a Garra Ciclone, um golpe carregado que amplia sua eficácia. No entanto, o sistema de combate é um dos pontos fracos do jogo. A simplicidade nas lutas, aliada à repetitividade dos inimigos e à pouca variedade de estratégias, acaba tornando os confrontos pouco empolgantes, mesmo com o desbloqueio de novas habilidades.

Os inimigos, chamados de falhas, também contribuem para essa sensação de monotonia. A maioria deles é composta por pequenas esferas negras com padrões de ataque previsíveis, algumas soltando lasers, mas sem oferecer um desafio real. O combate, embora funcional, não transmite impacto — falta peso nos golpes e variedade nas abordagens. Em muitos momentos, as batalhas parecem existir apenas para interromper o ritmo da exploração, tornando-se um obstáculo mais mecânico do que desafiador.

As batalhas contra chefes, embora simples, são divertidas e proporcionam um desafio pontual. A luta contra o primeiro chefe, por exemplo, remete ao estilo de confrontos clássicos como os de Crash Bandicoot, com padrões fáceis de entender, mas que exigem atenção e boa execução. Apesar disso, a falta de criatividade em algumas batalhas mais adiante pode gerar uma leve sensação de repetição. Os confrontos, no geral, seguem uma estrutura previsível e não evoluem tanto em complexidade.

Já a estrutura do jogo aposta em fases conectadas por um mapa aberto, com a possibilidade de retornar a áreas anteriores para encontrar coletáveis e cumprir objetivos secundários. Isso incentiva a exploração e a revisitação de cenários com novas habilidades, desbloqueando caminhos antes inacessíveis. Ao longo da jornada, o jogador encontra altares que funcionam como checkpoints e permitem restaurar a vida em troca de papel — recurso essencial para a progressão.

O sistema de itens também merece destaque. Papéis de artesanato são utilizados para reparar estruturas quebradas e avançar no cenário. Já os papéis especiais, como o Kozo e o Papel de Ouro, servem para criar ornamentos e acessórios com efeitos variados. Um exemplo é o Emblema do Coração Aberto, que aumenta o número de corações de vida. Existem também amuletos específicos, como a Garça Celestial e a Garça Vermelha, que restauram santuários principais e ocultos, respectivamente. Por fim, a Garça Dourada funciona como chave para fases especiais e colecionáveis raros.

Um elemento curioso é a presença de diagramas, que permitem a criação de ornamentos diversos, enquanto Ruz oferece relíquias não identificadas que revelam segredos escondidos nas fases. Esses elementos ajudam a expandir o conteúdo do jogo para além da narrativa principal, agregando valor à exploração e à coleta. Ainda assim, alguns jogadores podem sentir falta de uma forma mais intuitiva de acompanhar esses itens e relíquias dentro do menu, que por vezes se mostra confuso ou pouco explicativo.

Visualmente, Hirogami entrega um estilo artístico encantador, com personagens feitos de papel e cenários que misturam natureza e espiritualidade. O design é bonito e coeso, mas sofre com a falta de variedade: grande parte do jogo se passa em florestas ou cavernas, o que pode gerar certo cansaço visual com o passar das horas. Essa repetição estética compromete um pouco a sensação de progresso, já que mesmo ao avançar, os ambientes muitas vezes soam familiares demais.

Em termos de desempenho, o título roda de forma sólida no PlayStation 5, sem quedas de FPS, travamentos ou bugs perceptíveis. Os tempos de carregamento são rápidos e os comandos respondem de forma precisa, o que garante uma experiência suave e fluida durante toda a jornada. Ainda assim, o jogo poderia aproveitar melhor o hardware da nova geração com mais efeitos visuais ou interação com o controle DualSense, o que não acontece de forma marcante.

Agradecimentos a Kakehashi Games que nos enviou o jogo para a produção do review!

Conclusão

Hirogami é uma aventura criativa e encantadora, com uma jogabilidade envolvente baseada em transformações de papel e mecânicas de plataforma e puzzles bem construídas. A exploração e o sistema de itens são destacados, mas o combate simplista e a repetição nos inimigos e batalhas acabam comprometendo um pouco a experiência. A falta de diversidade visual em certos momentos também afeta a sensação de progresso. A performance no PS5 é sólida, mas o jogo poderia aproveitar melhor o potencial da nova geração.

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