Absolum é muito mais que um simples beat ’em up: ele combina elementos de roguelite e RPG para criar uma experiência rica, profunda e desafiadora. Diferente do que muitos podem imaginar, o jogo traz uma narrativa ampla e um universo cheio de mistérios que prendem o jogador desde o início. Além disso, o fator replay com 4 personagens jogáveis e multiplayer online, tornam a jornada ainda mais agradável.
A história começa com Karl e Galandra enfrentando Azra, o cruel rei da Ordem Carmesim, que aprisionou toda a magia no reino de Talamh. Embora o objetivo inicial pareça simples — derrotar Azra — a jornada exige que enfraqueçamos seu império, conquistando suas torres e derrotando generais poderosos. Essas torres são peças-chave tanto para a história quanto para a jogabilidade, pois controlar esses pontos significa interromper o fluxo do poder de Azra e abrir caminho para o confronto final.
O mundo de Talamh é dividido em quatro ilhas principais: Grandery, uma floresta mágica em decadência; Jaroba, um pântano tóxico e perigoso; Asterios, onde reside Azra e Yeldrim – mas aqui não irei falar muito, é uma bela surpresa. Conforme avançamos, o enredo se aprofunda, revelando uma trama recheada de traições, alianças e personagens com motivações próprias. Personagens como Ederig e Maugis expandem o lore, revelando segredos sobre a Mãe, as irmãs da raiz e os efeitos do poder de Azra no mundo. A narrativa é feita para quem aprecia histórias sombrias e cheias de nuances, com um plot twist que muda toda a perspectiva da campanha após a primeira finalização, incentivando a exploração e a busca pela verdadeira conclusão.
O sistema de combate é simples na base — golpes fracos e fortes — mas se revela sofisticado e cheio de possibilidades. Combinando esses ataques, você enche sua mana, que permite usar as Arcanas, habilidades especiais com efeitos variados e poderosos, que podem ser tanto ofensivas quanto passivas, modificando o estilo de jogo.
Além disso, o jogo oferece mecânicas clássicas dos beat ’em ups, como agarrar inimigos para arremessá-los em outros, mas adiciona elementos únicos. Por exemplo, o ambiente influencia diretamente a movimentação e o combate: lutar à beira de uma cachoeira faz com que a água corrente puxe o personagem para trás.
Um diferencial são as montarias: você pode montar criaturas como javalis para obter vantagem em combate, com uso limitado por uma barra de vida própria. Também é possível coletar armas arremessáveis, como facas ou bombas, que causam dano considerável à distância, oferecendo mais opções para lidar com diferentes situações e inimigos.
O sistema de rituais de fogo traz uma camada roguelite que dá ainda mais profundidade ao gameplay. Durante a jornada, o jogador escolhe melhorias — ou rituais — que variam desde causar queimaduras nos inimigos e deixar um rastro de fogo ao usar a corrida (dash), até aumentar mana, dano elemental, ouro ganho, velocidade e outros atributos. Essas escolhas permitem moldar o estilo da run, deixando cada tentativa única.
Outro destaque é o sistema de Arcanas: ao destruir cristais profanados, o jogador escolhe uma Arcana ativa ou passiva para adicionar ao arsenal. Algumas passivas, por exemplo, aumentam a regeneração de mana conforme o combo cresce, enquanto as Arcanas ativas desencadeiam ataques especiais devastadores.
O jogo ainda apresenta um hub central, onde podemos trocar de personagens, treinar habilidades, descansar em fogueiras — locais seguros inspirados na série Souls — e explorar um museu cheio de itens coletados durante a jornada. Esse hub serve para fortalecer a “árvore da vida” com cristais que aumentam atributos como vida, dano e crítico, garantindo evolução mesmo após derrotas.
O modo cooperativo online para duas pessoas é outro destaque. Além disso, o jogo conta com mercenários – companheiros controlados por IA – surpreendentemente são bem eficientes, assistindo no combate sem atrapalhar o fluxo, permitindo que você foque nos inimigos mais perigosos enquanto o companheiro cuida dos demais.
Os chefes, por sua vez, são verdadeiros testes de habilidade. Cada um traz mecânicas e desafios únicos, como a dupla Tidae e Ambys que alternam ataques, forçando o jogador a aprender padrões, esquivar, fazer parries e encontrar oportunidades para contra-atacar. Esses confrontos são punitivos e recompensadores, exigindo atenção e paciência. Personagens jogáveis como Broem, o sapo mago com cajado e Arcanas explosivas, oferecem variadas opções táticas para o jogador.
Karl, o anão com punhos poderosos, usa Arcanas baseadas em armas e bombas, aumentando ainda mais o replay do jogo.
Embora Absolum ofereça uma experiência rica e envolvente, alguns pontos ainda podem frustrar os jogadores. As melhorias iniciais, por exemplo, nem sempre trazem um impacto significativo, fazendo com que as primeiras fases das runs pareçam lentas e pouco recompensadoras. No modo cooperativo, a dificuldade pode se desequilibrar, já que o número de inimigos aumenta bastante com dois jogadores. Isso pode tornar os confrontos cansativos e exigir ainda mais coordenação entre a dupla. Além disso, as runs são longas, o que pode afastar quem prefere partidas rápidas ou busca uma experiência mais ágil. Algumas sessões exigem bastante tempo para alcançar o progresso desejado, o que pode desanimar certos jogadores.
A direção de arte de Absolum é um dos pontos mais impressionantes do jogo. Tudo é desenhado à mão com extremo cuidado, desde os personagens principais até os inimigos, passando por cada cenário. A identidade visual é única, combinando tons frios e sombrios em momentos de tensão com cores vibrantes e quentes para magias, ataques e elementos como o fogo que arde nos ambientes.
Essa variação cromática cria um contraste marcante, reforçando a atmosfera de cada local. A floresta mágica de Grandery é rica em verdes profundos, criando um ambiente vibrante, misterioso e cheio de vida e encantamento. Enquanto Jaroba, o pântano tóxico, tem tons acinzentados e marrons, transmitindo decadência, perigo constante e uma atmosfera opressiva e hostil.
Os modelos de personagens e inimigos são detalhados e expressivos, cada um com características que refletem sua história e papel no mundo. Azra, o Rei do Sol, é um grande cavaleiro de cabelos brancos e máscara vermelha, cuja presença impõe respeito e terror. Os inimigos variam por região, indo de goblins e fantasmas a cavaleiros da Ordem Carmesim, todos com animações fluídas e visual coerente.
A ambientação não fica atrás: castelos imponentes, pântanos traiçoeiros, florestas misteriosas — cada área é rica em detalhes que convidam à exploração e reforçam a imersão. Elementos como fogo, magias e efeitos climáticos são vibrantes e responsivos, tornando as batalhas visualmente impactantes.
O desempenho é consistente, mesmo nas fases mais intensas e com múltiplos inimigos na tela, garantindo que a jogabilidade nunca perca sua fluidez e precisão — essencial para um jogo que exige timing e estratégia.
Agradecimentos a Dotemu que nos enviou o jogo para a produção do review!
Conclusão
Absolum é uma grata surpresa no gênero beat ’em up, elevando a fórmula clássica com profundidade narrativa, combate estratégico e elementos roguelite bem integrados. A direção de arte impressiona com visuais desenhados à mão e ambientações ricas, enquanto o sistema de Arcanas e rituais oferece alto valor de replay. Apesar de alguns desequilíbrios e runs longas, a experiência é envolvente, desafiadora e cheia de personalidade. Ideal para quem busca ação intensa com camadas de complexidade.
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