Review | Hotel Barcelona – SUDA51 retorna em um roguelite bizarro

Após uma colaboração inusitada entre os criadores SWERY65 (Deadly Premonition) e SUDA51 (No More Heroes), Hotel Barcelona chega como um roguelite que mistura referências grindhouse, humor ácido e uma estética retrô que certamente vai agradar quem curte o bizarro e o experimental. Com uma proposta ousada, o jogo entrega uma experiência única, mas que não está livre de imperfeições e desafios para os jogadores.

A trama gira em torno de Justine, uma jovem agente federal enviada para investigar um hotel isolado onde assassinos em série se refugiam. Inspirado no clássico Overlook Hotel de O Iluminado, o cenário é povoado por personagens grotescos — de um barman colecionador de orelhas humanas a uma criatura sinistra no armário da protagonista.

A narrativa ganha contornos sobrenaturais quando Justine, após um acidente, desperta possuída pelo espírito de Dr. Carnival, um serial killer que a auxilia (e influencia) na caçada aos demais assassinos. Enquanto esse despertar funciona como uma justificativa narrativa para o ciclo roguelite do jogo: ao morrer ou completar uma fase, Justine reinicia o processo sem memória, estabelecendo o loop principal da experiência.

No quesito jogabilidade, Hotel Barcelona se apresenta como um roguelite de ação em 2.5D, com fases relativamente curtas, que duram em média de 15 a 20 minutos, e repletas de inimigos, armadilhas e chefes inspirados no terror oitentista. Justine conta com um arsenal que mistura armas de fogo e corpo a corpo, além de habilidades defensivas como esquiva e bloqueio.

O sistema de combate, no entanto, tem um início complicado. A movimentação e os controles soam travados e pouco responsivos, especialmente na hora de esquivar ou reagir rapidamente. A ausência de sistemas de parry ou defesas mais elaboradas limita as opções táticas, tirando um pouco da fluidez e dinamica da ação. Além disso, o HUD é excessivamente carregado, exibindo múltiplos multiplicadores, barras de vida e stamina, medidor do “Carnival Awakening” e vários efeitos visuais ao mesmo tempo, o que acaba poluindo a tela e distraindo durante os confrontos.

Com o progresso na árvore de habilidades, contudo, o combate evolui e se torna mais ágil e prazeroso, liberando combos e ampliando o arsenal, o que traz uma sensação satisfatória de domínio e evolução.

Uma mecânica interessante é o medidor de sangue, que cresce à medida que o jogador elimina inimigos de forma rápida e agressiva. Quando cheio, ele ativa o “Carnival Awakening”, um modo especial que oferece ataques poderosos. O medidor esvazia rápido, forçando ritmo frenético e frustrando quem prefere uma abordagem mais estratégica, pausada ou focada em observação cautelosa.

Entre os aspectos mais criativos estão os Slasher Phantoms: fantasmas que reproduzem seus movimentos após a morte e ajudam nas tentativas seguintes. Apesar do conceito inovador, essa mecânica é limitada pelo fato de que, para mantê-los ativos, o jogador precisa repetir os mesmos caminhos e portas, o que restringe a exploração e tira parte da variedade esperada em um roguelite.

As fases trazem variações como clima, modificadores e fases da lua, mudando inimigos e desafios para manter a experiência fresca a cada tentativa. Porém, a movimentação truncada, armadilhas que atordoam e drenan vida e a dificuldade punitiva podem tornar a experiência frustrante, mesmo no modo Normal. Os raros segmentos de plataforma também sofrem com controles imprecisos, tornando essas partes menos divertidas e mais propensas a perdas de progresso.

Visualmente, o jogo aposta pesado na estética grindhouse retrô, com personagens grotescos e caricatos, que refletem o estilo único dos desenvolvedores. Os chefes, em particular, são destaque para os fãs do terror dos anos 80, com identidades fortes e designs marcantes. As cutscenes feitas com retratos desenhados à mão, menus estilizados e a arte suja e saturada reforçam o clima underground e punk da produção. Além disso, a trilha sonora, com punk rock e industrial pesado, casa perfeitamente com o ritmo caótico e violento da jogabilidade.

No PlayStation 5, Hotel Barcelona mantém um desempenho sólido, com framerate estável e carregamentos rápidos que sustentam o ritmo intenso do jogo. Não identifiquei bugs graves nem travamentos significativos, o que surpreende positivamente diante da complexidade das mecânicas. Embora o DualSense não aproveite todo seu potencial, os controles respondem bem e se adaptam ao estilo do jogo.

Agradecimentos a CULT Games que nos enviou o jogo para a produção do review!

Conclusão

Hotel Barcelona é uma experiência ousada e autoral, que mistura terror, grindhouse e roguelite com personalidade de sobra. Embora tropece em aspectos técnicos como controles rígidos e HUD poluído, compensa com criatividade, estilo visual marcante e uma atmosfera única. É um jogo que vai agradar quem busca algo fora do comum, mesmo que exija paciência para superar suas arestas. Para fãs do bizarro e do experimental, é uma estadia inesquecível — ainda que nem sempre confortável.

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