Review | Wander Stars – Um jogo de palavras diferente e encantador

Wander Stars é aquele tipo de jogo que parece ter saído direto da TV Manchete na década de 90 — no melhor sentido possível. Com personagens carismáticos, um sistema de batalha criativo e um espírito de aventura que mistura animes clássicos como Shurato e Dragon Ball, o game consegue capturar a essência de um bom anime shonen e ainda entregar uma experiência original.

A jornada acompanha Ringo, uma adolescente impulsiva e cheia de energia, e Wolfe, um lobo antropomórfico misterioso e protetor. Juntos, eles viajam pelo universo em busca dos fragmentos do lendário Mapa Wanderstar, enfrentando desafios espaciais, inimigos bizarros e dilemas pessoais pelo caminho. A história é dividida em 10 episódios, como uma temporada curta de anime — e sim, funciona muito bem. Cada capítulo traz ação, comédia e até momentos emocionantes, desenvolvendo bem todos os personagens.

Ao longo dos episódios, a amizade entre Ringo e Wolfe cresce de forma divertida e tocante, com rivalidades bobas, momentos de afeto e aquele sentimento gostoso de “família encontrada” em meio ao caos intergaláctico. Ringo é explosiva e sonhadora, enquanto Wolfe é mais contido, mas revela, aos poucos, um lado protetor e afetuoso. O clima geral lembra muito a fase inicial de Dragon Ball, quando tudo era mais leve e lúdico, mas ainda assim capaz de emocionar.

O grande destaque de Wander Stars é seu sistema de combate por turnos, que funciona como uma espécie de dicionário mágico. Em vez de comandos fixos, os ataques são criados combinando três tipos de palavras:

  • ACT (ação): KICK, PUNCH, BLOCK, JAB
  • ELE (elemento): FIRE, ICE, POISON
  • MOD (modificadores): BIG, SWIFT, SUPER, EXTRA, REPEATING

É como se um RPG clássico tivesse se misturado com um jogo de palavras cruzadas — e tudo simplesmente funcionasse. Você pode criar combinações como “BIG FLAME PUNCH” ou “SUPER REPEAT POISON KICK”, e cada uma altera a animação, os efeitos e o impacto do golpe. O sistema incentiva a experimentação, especialmente porque as palavras têm tempo de recarga, o que impede o uso repetitivo das mais poderosas.

No entanto, nem tudo é perfeito. Algumas combinações soam estranhas ou desorganizadas, como “Special Ice Super Extra Punch”, o que pode incomodar quem valoriza a fluidez dos comandos. Além disso, como cada palavra tem um tempo diferente de recarga, é possível ficar travado com opções fracas em momentos decisivos. Isso exige planejamento, mas também pode frustrar, especialmente nas primeiras horas, quando o seu “vocabulário de combate” ainda é limitado.

Outro problema notável é a repetição de sprites inimigos. Muitos adversários são visualmente idênticos, mesmo com habilidades e fraquezas distintas. Isso quebra a imersão e pode atrapalhar a estratégia, já que o reconhecimento visual dos inimigos não condiz com suas características em combate.

Apesar disso, o jogo se redime com a mecânica de “Peace Out”, que permite terminar batalhas com um gesto de paz, em vez de nocautear o inimigo. Isso não só rende bônus passivos (os chamados Pep Ups, como resistência elemental ou dicas de fraquezas), como reforça a mensagem de que nem toda luta precisa terminar com violência. É um detalhe pequeno, mas que revela o coração do jogo.

A estrutura dos episódios lembra um tabuleiro visto de cima, com nós conectados que representam batalhas, eventos ou diálogos. É uma abordagem simples, mas funcional, ideal para sessões rápidas de jogo — perfeito pra quem gosta de jogar um pouquinho por dia sem se perder na história.

Por outro lado, Wander Stars não conta com um grande conteúdo para sua exploração. Não há cidades, missões secundárias ou sistemas complexos de progressão. Entre um episódio e outro, você não leva itens nem desenvolve relações com NPCs além do núcleo principal. O foco é totalmente narrativo e nos combates, o que funciona dentro da proposta de um “anime jogável”, mas pode desapontar quem espera um RPG com mundo aberto ou mais profundidade.

Outro ponto negativo importante: não há localização para português do Brasil. Tudo está em inglês — menus, diálogos e sistema de combate — o que pode afastar parte do público, especialmente os mais jovens ou quem prefere jogar em sua língua nativa. Num jogo tão dependente de palavras e combinações, a barreira de idioma pesa bastante.

Visualmente, Wander Stars é um espetáculo. Os traços são grossos, com expressões exageradas, poses dramáticas e animações de combate que parecem ter saído direto de uma abertura de anime. Os menus brilham com frases como “TREASURE GET!”, e os cenários passam por vilarejos retrô, jardins assombrados e estações espaciais em ruínas. Só que, mesmo com tanto estilo, a repetição de inimigos — já mencionada — enfraquece um pouco o impacto visual nos momentos mais “épicos”.

A trilha sonora segue o mesmo espírito: são duas opções — uma versão moderna e outra com sintetizadores retrô —, ambas com melodias cativantes que parecem ter saído de um anime de 1994. Funciona perfeitamente com a proposta e reforça o clima nostálgico em cada parte da aventura.

No geral, o jogo roda bem, com carregamentos rápidos e raros travamentos. Problemas mais sérios são quase inexistentes. E há ainda ótimas opções de acessibilidade, como a possibilidade de alterar as cores das palavras nos combates — um recurso útil para jogadores dautonicos , e que mostra o cuidado dos desenvolvedores com diferentes perfis de público.

Agradecimentos a Fellow Traveler que nos enviou o jogo para a produção do review!

Conclusão

Wander Stars é uma homenagem charmosa aos animes dos anos 90, combinando narrativa cativante, visual nostálgico e um sistema de combate criativo e único. Apesar de limitações na exploração, repetição de inimigos e barreira de idioma, o jogo conquista pelo carisma e originalidade. Ideal para fãs de RPGs e animes clássicos que buscam uma experiência diferente e leve.

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