Review | Godbreakers – Combate estiloso, mas falta profundidade

Godbreakers é um roguelike de ação em terceira pessoa desenvolvido pela To the Sky e publicado pela Thunderful Games, que mistura combates frenéticos e progressão baseada em runs com uma ambientação mitológica e futurista. A proposta é ousada: enfrentar e derrotar deuses tirânicos espalhados por diferentes mundos, absorvendo seus poderes em uma jornada para destruir o supremo ser conhecido como Monad, uma inteligência artificial que devora matéria e energia em busca de expansão infinita. No entanto, apesar de uma base sólida e um sistema de combate viciante, o jogo sofre com repetição, falta de profundidade em suas mecânicas centrais e uma escassez de conteúdo que limita seu potencial a longo prazo.

O enredo de Godbreakers se passa em um futuro distante, quando tudo o que restou da humanidade são fragmentos de código. A entidade conhecida como Monad — uma colossal mente artificial — consome tudo ao seu redor, inclusive o Sol. Para impedir a aniquilação completa do sistema solar, um grupo celestial chamado Coven cria uma efígie contendo os padrões de um humano: o jogador. Com o apoio do Coven, o protagonista parte em uma missão desesperada para eliminar os deuses subordinados a Monad e, por fim, enfrentá-lo.

A história é apresentada de forma minimalista, com poucos diálogos e uma narrativa mais voltada para a ambientação e o simbolismo do que para o desenvolvimento de personagens. O conceito é interessante, especialmente ao combinar mitologia e ficção científica, mas falta substância. O jogador raramente sente o peso da jornada ou a urgência do enredo — ele serve mais como pano de fundo para justificar a ação do que como um fio condutor emocional.

Na essência, Godbreakers é um hack-and-slash com elementos roguelike, no qual cada run leva o jogador por uma sequência de mundos repletos de arenas, inimigos e chefes colossais. O combate é rápido, fluido e centrado em combos leves e pesados, dashs canceláveis e ataques especiais exclusivos de cada arma. Há também habilidades elementais — como bombas, explosões de área e debuffs — que adicionam variedade às batalhas.

Durante as fases, o jogador coleta itens, equipamentos e melhorias temporárias que impactam diretamente seu desempenho e aparência. As armaduras e os efeitos visuais se acumulam conforme ele obtém o loot. O ritmo acelerado exige precisão: o jogador deve controlar o campo de batalha movendo-se constantemente e usando as habilidades no momento certo.

Apesar da base sólida, os problemas de balanceamento persistem. Jogando solo, o ritmo diverte, mas os jogadores sentem que causam pouco dano, especialmente nas fases mais avançadas. Alguns ataques elementais parecem fracos, mesmo após upgrades, e o jogo tende a penalizar quem não joga em grupo. Isso deixa a curva de dificuldade inconsistente — o início é acessível, mas o terceiro mundo em diante pode se tornar frustrante pela súbita elevação do desafio e pela escassez de recursos de cura.

O jogo claramente foi projetado com o cooperativo em mente. Até quatro jogadores podem se unir em partidas online, e aqui a experiência ganha outra dimensão. Combos coordenados, uso sincronizado de Godbreaks e especializações de armas diferentes tornam os combates muito mais estratégicos e dinâmicos. Em equipe, o jogo brilha, e o caos controlado das arenas se torna empolgante.

Contudo, há pouca sinergia real entre habilidades, e a falta de comunicação visual ou efeitos diferenciados pode deixar as lutas confusas. Além disso, as recompensas e progressão são praticamente idênticas ao modo solo, o que tira parte da motivação de repetir runs em grupo. O multiplayer é divertido, mas carece de um sistema mais robusto de progressão cooperativa.

A personalização é dividida entre aparência e jogabilidade. No hub central, o jogador pode trocar skins, cabeças, cores e armas, além de gastar moedas especiais em melhorias permanentes. Existem seis arquétipos de armas, que variam desde foices e lanças até pilares e lâminas duplas. Cada uma tem combos e habilidades únicas — por exemplo, a foice pode invocar drones que disparam lasers, enquanto a lança dispara ondas cortantes.

As melhorias permanentes oferecem bônus pequenos, como aumento de chance de drop ou leve incremento de dano crítico, e não alteram de fato o estilo de jogo. O mesmo vale para o ganho de essência durante as runs: bônus de 1% ou 2% são sutis demais para causar impacto significativo. Falta um senso de crescimento palpável entre tentativas, o que prejudica o fator de replay típico dos roguelikes.

O destaque conceitual do jogo é o Godbreak, habilidade que permite absorver o poder de inimigos enfraquecidos. Ao executá-los, o jogador destrava ataques ou buffs únicos — lasers, curas, explosões. É uma ideia promissora, mas que não se sustenta na prática. As habilidades obtidas só podem ser usadas uma única vez, transformando o recurso em algo descartável. Isso elimina boa parte da estratégia e faz com que o sistema pareça mais um truque visual do que uma mecânica central. Se houvesse combinações entre Godbreaks ou upgrades específicos, a funcionalidade poderia brilhar. Do jeito que está, é um recurso subutilizado e pouco integrado ao restante do combate.

A estrutura das missões falta variedade. O jogo repete o formato: o jogador enfrenta arenas de inimigos, derrota um mini-chefe, coleta loot e encara o chefe principal do mundo. O jogo oferece seis mundos, mas o jogador explora apenas quatro por run. Nas duas primeiras fases, o jogador escolhe livremente o caminho, enquanto as seguintes seguem uma ordem fixa, o que reduz a sensação de descoberta. Após algumas tentativas, o jogador percebe que os padrões de inimigos e os layouts se tornam previsíveis.

A dificuldade cresce de forma desigual e, como a progressão é lenta, muitos jogadores acabam presos em um ciclo frustrante: dominar o primeiro mundo, sofrer no segundo e morrer no terceiro. Essa sensação de estagnação contrasta com a fluidez e o potencial do combate.

“Godbreakers impressiona visualmente com seu estilo artístico minimalista e limpo. Ele usa cores sólidas e cria cenários etéreos que evocam um misto de fantasia e ficção científica. Além disso, realizaram um belo trabalham nos efeitos de partículas, luzes e impactos de habilidades, mas principalmente no design dos chefes.

A trilha sonora, composta por temas eletrônicos e orquestrais, complementa bem a ação intensa. O desempenho geral é estável, sem quedas de fps durante toda a jornada. Quanto a conexão, ela permaneceu estável durante todas as horas que joguei, permitindo partidas multiplayer totalmente fluídas e sem interrupções.

Agradecimentos a Thunderful Games que nos enviou o jogo para a produção do review!

Conclusão

Godbreakers é um jogo de combate delicioso, visualmente elegante e cheio de estilo, mas que não alcança o potencial de suas próprias ideias. A mecânica de Godbreak carece de profundidade, a progressão é tímida e a repetição se instala rápido. Ainda assim, quando tudo funciona — especialmente em multiplayer — é fácil se perder em suas batalhas ágeis e satisfatórias.

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