Lumines Arise – Review

Lumines Arise – Review

Desde que Lumines saiu para PSP, Tetsuya Mizuguchi deixou seu legado através da originalidade do título. Após duas décadas, finalmente tivemos um revival da franquia com Lumines Arise, combinando a essência clássica do original com uma identidade audiovisual marcante que define os jogos do estúdio Enhance.

O estúdio é conhecido por transformar experiências simples em jornadas únicas e sensoriais, como vimos em Tetris Effect. Mizuguchi volta a mostrar que som, imagem e jogabilidade podem coexistir em perfeita harmonia e trazer sensações únicas aos jogadores. O resultado é um dos jogos mais envolventes, artísticos e ousados da atual geração.

Lumines Arise não conta a história de forma tradicional, até mesmo pelo seu gênero e estilo de jogo. O enredo é metafórico, tratando-se de uma jornada visual e sonora que nos faz viajar por diferentes mundos de luz, som e ritmo, trazendo sensações únicas. Cada Jornada representa um cenário temático e musical distinto, refletindo emoções e atmosferas únicas, indo tranquilidade do raiar do sol em uma praia até uma grande metrópole futurista.

O modo Jornada, é o coração de Lumines Arise. Com nove jornadas únicas, cada uma delas possui de quatro a cinco faixas musicais com temas e visuais únicos. A progressão é muito justo no decorrer de cada jornada, aumentando e dificultando progressivamente, culminando em desafios intensos que testam nossas habilidades e concentração, mas também trazendo sensações únicas.

Essa estrutura é uma marca de Mizuguchi e sua filosofia, trazendo experiências onde o jogador “sente” uma narrativa através de estímulos visuais e auditivos, indo muito além de simples palavras. Algumas músicas inconsistentes também prejudicam o ritmo do Journey Mode, alternando entre faixas vibrantes e outras mais apagadas.

Mesmo com uma jornada marcante à sua maneira, a jogabilidade é a grande base e brilho de Lumines Arise. Seguindo o princípio que consagrou o título original, blocos 2×2, composto por duas cores ou símbolos diferentes, caem do topo da tela. O objetivo é alinhar e juntar quatro blocos da mesma cor para formar um grande bloco. Uma timeline, percorre a tela periodicamente, eliminando os quadrados formados e concedendo pontos conforme o ritmo da música.

A mecânica é simples, mas se aprofunda com o sistema de Burst, uma barra de energia que é preenchida ao realizar combos. Ao ser ativado, o Burst desacelera o tempo e interrompe a passagem da linha de luz, permitindo construir várias combinações antes que a timeline passe, gerando pontuações massivas. Esse recurso adiciona uma camada estratégica único, pois, utilizar o Burst em momentos certos pode ser crucial para limpar a tela completamente em um grande combo.

Além dos padrões da jogabilidade, um grande diferencial de Lumines Arise é como a música dita o ritmo da jogabilidade. Quando o som acelera, a timeline se move mais rápido, exigindo maiores reflexos e agilidade. Quando a trilha desacelera, é possível respirar e planejar melhor suas jogadas. Essa variação é constante e extremamente bem vinda, pressionando e fazendo com que o jogador utilize sabiamente seus momentos de calmaria.

O que diferencia Lumines Arise de qualquer outro jogo de puzzle é a forma como ele transforma uma mecânica simples em uma experiência sensorial completa. Poucos títulos conseguem integrar som, imagem e interação de maneira tão orgânica. Cada movimento, rotação e encaixe de bloco é acompanhado por uma nota musical, um toque de percussão ou um pulso eletrônico que se mistura à trilha sonora.

Lumines Arise vai muito além do Modo Jornada, também temos o desafiador Survival Mode, que reúne todas as músicas em uma sequência contínua, desafiando o jogador em uma grande maratona audiovisual. Além disso, o jogo conta com diversos Challenges, que possuem regras personalizadas, trazendo uma estrutura menos linear que o Modo Jornada e Survival. Os desafios variam desde tarefas cronometradas, gerar Burst em sequência ou até mesmo libertar uma criatura presa.

No entanto, creio que o grande futuro do título é seu multiplayer, com destaque para o Burst Battle, onde dois jogadores competem lado a lado, enviando blocos ao campo adversário ao executar combos. Além disso, esse modo conta com liga de pontuação e eventos semanas que unem toda a comunidade para atingir metas globais. Mesmo sendo extremamente divertido, a falta de variedade aqui pode afetar o interesse ao longo prazo. A adição de mais modos é essencial para manter o multiplayer vivo.

Além disso, Lumines Arise aposta fortemente na personalização. O jogador possui um avatar, o Loomii, que pode ser customizado com mais de 700 itens desbloqueáveis — desde expressões faciais até objetos flutuantes dentro da cabeça transparente da criatura. Essa estética peculiar reforça a identidade excêntrica e futurista do jogo.

Visualmente, Lumines Arise é um espetáculo. As fases são verdadeiros palcos vivos, com elementos que dançam e reagem ao ritmo da música, com silhuetas humanas, luzes pulsantes, fumaça, reflexos e até iguanas que balançam a cabeça ao som do techno. Tudo isso é renderizado com precisão em 4K e HDR, usando o motor Unity e o sistema proprietário Synaesthesia Engine, o mesmo de Tetris Effect.

No entanto, essa intensidade visual é uma faca de dois gumes. Em certos níveis, os efeitos podem se tornar excessivos, ofuscando o campo de jogo e dificultando a leitura dos blocos. Felizmente, o título oferece amplas opções de acessibilidade que permitem ajustar a luminosidade, reduzir partículas, afastar a câmera e até eliminar elementos específicos como aranhas.

A trilha de Lumines Arise é uma obra-prima à parte. Produzida pelo duo Hydelic, responsável também pelas músicas de Rez e Tetris Effect: Connected, o álbum reúne mais de 35 faixas que passeiam por gêneros como techno, house, chillout, lo-fi e até hip hop experimental.

Cada música define o ritmo da fase, influenciando diretamente o gameplay. Quando a batida acelera, o jogo se torna mais intenso; quando desacelera, há uma sensação de alívio e contemplação. Algumas faixas, porém, destoam do conjunto, com momentos em que o som quebra o fluxo entre uma batida empolgante e outra mais introspectiva. Ainda assim, o jogador pode criar playlists personalizadas e até usar o Modo Teatro, transformando o jogo em uma experiência musical interativa.

Lumines Arise vale a pena?

Lumines Arise vale muito a pena. Ele combina jogabilidade viciante, visual hipnótico e trilha sonora impecável para criar uma experiência sensorial única. Apesar de pequenos deslizes em algumas músicas e efeitos visuais exagerados, o conjunto é envolvente, polido e profundamente satisfatório tanto para jogar quanto para ouvir. Um retorno triunfante da série e um destaque no gênero puzzle musical.

Agradeço à Enhance pelo envio do jogo para review!

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