Demonschool – Review

Demonschool – Review

Demonschool é uma daquelas grandes surpresas que os videogames escondem. Em meio à tantos lançamentos e jogos, muitos títulos passam despercebidos pelos jogadores, e creio que esse é um deles. Por se tratar de um jogo bem nichado, poucos vão conhecer, mas eu garanto, vale a pena se aventurar nesse mundo. O título que é bem familiar para os jogadores de RPG tático e Persona, logo vão se encantar com a fórmula apresentada aqui. Com diversas referências ao mundo geek e pop dos últimos anos, aqui temos adolescentes sobrenaturais, uma narrativa misteriosa e muito sarcasmo. Apesar de soar estranho inicialmente, o resultado é estiloso e cheio de personalidade, uma experiência que abraça o absurdo, mas com muito amor.

A história gira em torno de Faye que vai estudar em uma universidade isolada em uma ilha misteriosa. Desde o início da jornada, ela suspeita de que algo muito ruim está para acontecer no campus, sentindo que ele está infestado de demônios. Após uma pequena introdução, suas suspeitas se confirmam, e ela se vê no centro de tudo, com a missão de impedir uma possível catástrofe envolvendo o colapso entre o mundo humano e o inferno. Faye não está sozinha, ela reúne um grupo de aliados que tem tudo para dar errado, sendo diversos universitários desajustados, céticos e entediados, mas que abraçam o caos desde o começo.

O enredo é simples e não busca ser profundo, principalmente por não sentirmos um senso de urgência. As motivações são simples e não vão se expandir, os mistérios se devem ao colapso dos mundos, não pela construção narrativa. Além disso, os personagens muitas vezes são excêntricos, mas ainda trazem um tom leve e humor simples. Os diálogos são bem escritos, as piadas não são jogadas atoa, surgindo naturalmente e o melhor, o jogo não tem vergonha de rir de si mesmo. Mesmo com pequeno furos de roteiro e situações extremamente exageradas, o carisma narrativo é perfeito pra obra, principalmente para quem não quer complexidade.

Demonschool se destaca justamente por saber seu papel ao não ser sério, mas ganhar o jogador na atmosfera e elenco peculiar. Se você for de peito aberto e aceitar que tudo ali é estilizado e exagerado, desde os momentos esquisitos até os casos sobrenaturais inusitados, vai amar cada segundo com esse grupo universitário.

Demonschool é um RPG tático que se destaca por não trazer o caminho tradicional do gênero. Ao invés de combates logos, aqui temos um campo de batalha ainda mais estratégico e que muitas vezes poder lido como um grande quebra-cabeça em movimento. Cada confronto é único, então é preciso achar a solução ideal para derrotar os inimigos sem sofrer baixas.

Os mapas são gradeados, onde cada turno é dividido entre planejar o posicionamento dos personagens, escolher ações e combinar ataques. O planejamento é a base do combate, aqui você pode reorganizar e mudar quantas vezes quiser até ter certeza da execução de suas ações. Essa abordagem nos incentiva a experimentar e testar diversas cominações sem o medo de avançar e dar errado. Após a confirmação dos movimentos, vem a execução, onde os personagens realizam seus ataques, movimentos e efeitos especiais de forma simultânea, criando uma sensação única de “Veja o estrago sendo feito” ou “Deu merda”.

Os membros da equipe possuem funções definidas, ideais para abordagens diferentes. Temos personagens focados em ataques diretos, especialistas em controle de terreno, suporte ou elementos específicos. Diferente dos elementos que estamos acostumados, como fogo, água e terra, aqui temos algumas variações que geram combos brutais e interessantes. Um desses elementos é o sangue, que pode ser fatal se bem utilizado.

Os chefes de Demonschool são excepcionais, não só pelo visual, mas pela complexidade de seus combates. Diferente dos combates normais, aqui sua atenção precisa ser redobrada e um mísero erro pode ser fatal para sua derrota. Além do excelente desafio, eles dão um frescor ainda maior para o jogo, provocando o jogar a aprender novas táticas e utilizar habilidades pouco utilizadas em combates normais.

Mesmo com um combate excelente, é normal que esse tipo de jogo sofra com a repetição, e sim, isso acontece aqui. Por mais inventivo e desafiante que seja, após algumas horas os combate normais já não são tão desafiadores mais. Mesmo com novas habilidades e inimigos surgindo, você sente que grande parte desse conteúdo está ali para encher o jogo, visto que ele é maior do que parece. Como não existem níveis tradicionais, o jogo depende quase exclusivamente de ferramentas táticas para evoluir a equipe. Isso funciona bem no começo, mas perde força na metade da campanha, quando novas ferramentas deixam de surgir no mesmo ritmo.

Além do combate, o jogo possui um sistema social parecido com Persona, só que sem a profundidade que estamos acostumados. Aqui temos um calendário e temos diversas atividades que podem ser realizadas no decorrer do dia, no entanto, você não sente urgência nisso. O jogo não avança o tempo após realizar uma tarefa, deixando o jogador livre durante todo o dia para realizar todas. Além disso, diferente de outros jogos do gênero, aqui elas não acrescentam em nada ao jogo, são apenas momentos engraçados e que fortalecem os vínculos, mas narrativamente não significam nada.

Demonschool é um deleite visual em todos os aspectos. A direção de arte aposta em pixel art estilizada com cores agressivas e cenários que destoam entre o mundo real e um grande pesadelo. A sensação de surrealismo é constante, principalmente com o contraste constante entre neon, paletas sobrenaturais e ambientes do cotidiano universitário.

O visual dos chefes e inimigos é tão inventivo quanto outros aspectos visuais, misturando elementos entre o grotesco e terro de modo equilibrado. O design exagerado e estilizado, fazem com que essa estética sejam a identidade do jogo, tornando-o reconhecível instantaneamente. Enquanto a trilha sonora ela reflete bem o universo do jogo, com faixas etéreas, batidas estilizadas e tensas. Os temas de batalha elevam a tensão, enquanto as músicas do dia a dia mantêm o ambiente intrigante, como se algo estivesse sempre prestes a dar errado.

O desempenho do jogo tem alguns pequenos tropeços. Pequenos bugs, quedas de fps e alguns crashes ocasionais podem atrapalhar a experiência, principalmente se estiver no meio de algum combate.

Demonschool vale a pena?

Demonschool vale a pena para quem busca um RPG tático fora do padrão, estiloso e cheio de personalidade. Seu combate é inteligente, os chefes são excelentes e a direção de arte é um espetáculo. Apesar da repetição e do sistema social superficial, a experiência é divertida, carismática e única. Para fãs do absurdo bem-feito, é uma ótima surpresa.

Agradeço a Ysbryd Games pelo envio do jogo para review!

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