Os desenvolvedores do estúdio To the Sky apostaram em uma nova mistura entre mitologia ficção científica com Godbreakers, um roguelike de ação que combina combates frenéticos, progressão a cada nova run e uma ambientação mística, mas também futurista. A proposta é simples, mas ousada, aqui o jogador deve enfrentar deuses tirânicos espalhados por diferentes mundos, absorver seus poderes e, por fim, destruir o ser supremo Monad – uma grande inteligência artificial que devora matéria, buscando se expandir de forma infinita. Apesar de ter elementos bem sólidos, principalmente em seu combate e personalização, Godbreakers sofre com o mal do gênero, a repetição e falta de profundidade em diversas mecânicas.
Godbreakers se passa em um futuro distante, onde tudo que restou da humanidade são fragmentos de código, Monad, uma grande entidade artificial consome tudo ao seu redor. Para impedir que ele aniquile completamente o sistema solar, um grupo celestial chamado Coven, cria uma efígie com os padrões humanos. Com o apoio do grupo, o jogador parte em uma jornada para derrotar deuses subordinados a Monad, e por fim, impedir o fim do universo.
A história é entregue de forma bem minimalista, com poucos diálogos e focando na ambientação e simbolismo. A unificação de mitologia e ficção científica é interessante até certo, mas se perde na falta de peso emocional e urgência. Assim como grande parte dos jogos roguelikes, a história serve como pano de fundo para justificar a ação.
O jogo é dividido em seis mundos, onde é possível percorrer apenas quatro por run. Nas duas primeiras fases existem a possibilidade de escolher o caminho, enquanto as duas próximas são fixas, reduzindo o senso de descoberta. O formato das fases se repete e talvez seja um dos grandes pontos fracos não apenas de Gobreakers, mas também do gênero. Cada mundo é repleto de inimigos, mini-chefes, loot e por fim um grande chefe principal.
Na essência, Godbreakers é um hack ‘n’ slash com elementos roguelike. O combate é rápido, fluido e centrado em um sistema de combos leves e pesados, um sistema de dashs bem completo e que permite cancelar o movimento. Cada arma é única em seu move set e ataques especiais, trazendo uma boa variação para o combate, permitindo ao jogador experimentar uma nova abordagem a cada run. Além disso, existem habilidades elementais como bombas, explosões de área e debuffs, adicionando ainda mais ritmo e estratégia ao combate.
O jogo possui um ritmo acelerado que penaliza quem não se movimenta constantemente ou usa todas as suas habilidades. No entanto, até o momento do review, ele era um jogo bem desbalanceado. Apesar do combate divertido, jogar solo tem a sensação de causar pouco dano, especialmente no últimos mundos. Certos ataques elementais mesmo após upgrades, não surtem tanto efeito nos inimigos. Apesar do início acessível, a dificuldade irregular e a progressão lenta podem afastar diversos jogadores.
O conceito mais marcante de Godbreakers é o Godbreak, habilidade que permite absorver o poder de inimigos enfraquecidos. Ao executá-los, o jogador destrava ataques ou buffs temporários, como lasers, curas ou explosões. A ideia é excelente, mas sua execução decepciona: as habilidades obtidas só podem ser usadas uma vez, tornando o sistema descartável. Isso elimina boa parte da estratégia e faz com que o recurso pareça mais um truque visual do que uma mecânica central.
Quanto a exploração, as fases possuem uma quantidade considerável de itens, equipamentos e melhorias temporárias para serem coletados, permitindo ao jogador evoluir e melhorar seu desempenho, ou alterar sua aparência. No entanto, a progressão aqui é lenta e gera um ciclo frustrante de dominar mundo por mundo ate conseguir completar uma run. Em diversos momentos você se sente estagnado devido aos picos de dificuldade e a falta de recompensa.
Godbreakers foi concebido para ser jogado de forma cooperativa. Até quatro jogadores podem se unir em partidas online, e é aqui que o jogo realmente brilha e toma sua forma verdadeira. A possibilidade de coordenar combos e sincronizar o uso de Godbreaks tornam as lutas ainda mais estratégicas e empolgantes. O caos das arenas se torna intenso e gratificante quando compartilhado com outros jogadores.
No entanto, é preciso um balanceamento maior no sistema cooperativo. As sinergias entre habilidades e efeitos visuais podem ser meio confusos. Além disso, o sistema de recompensas e progressão não são tão diferentes do jogo solo. Falta um sistema de progressão cooperativo mais robusto que premie o trabalho em equipe e até mesmo o melhor jogador do time.
Falando em progressão, precisamos falar sobre as melhorias permanentes. Algumas delas oferecem bônus sutis, como aumento de chance de drop ou leve aumento de dano crítico, mas não mudam de fato o estilo de jogo. O mesmo vale para os ganhos de essência durante as runs — bônus de 1% ou 2% são pouco expressivos, prejudicando o senso de crescimento entre tentativas.
A parte da personalização é um ponto forte e se divide entre estética e jogabilidade. No hub central, é possível trocar skins, cabeças, cores e armas, além de investir em melhorias permanentes. Há seis tipos de armas, desde foices e lanças até espadas duplas e grandes pilares, cada uma com combos e habilidades únicas.
Godbreakers impressiona com sua direção de arte. O estilo artístico minimalista e limpo, aliado ao uso de cores sólidas e cenários etéreos, cria um mundo que mescla fantasia e ficção científica com elegância. Os efeitos de partículas, luzes e impactos são bem executados, com destaque para o design dos chefes, que esbanjam criatividade e presença.
A trilha sonora combina temas eletrônicos e orquestrais que elevam a tensão das batalhas e reforçam o tom épico da jornada. O desempenho técnico é estável, com taxa de quadros consistente e conexão online fluida, garantindo partidas cooperativas sem interrupções.
Godbreakers vale a pena?
Godbreakers vale a pena para quem busca combates intensos, visuais impressionantes e jogabilidade cooperativa divertida. No entanto, sua repetição, progressão lenta e falta de profundidade reduzem o apelo a longo prazo. É um bom roguelike de ação, mas ainda precisa amadurecer em conteúdo e balanceamento. Recomendado com ressalvas, especialmente em grupo.

Agradeço à Thunderful Games pelo envio do jogo para review.










