Painkiller é uma daquelas franquias esquecidas e que poucos imaginavam seu retorno. Mas graças ao Anshar Studios, essa franquia lendária foi revivida e tenta resgatar o espírito brutal dos “boomer shooters” dos anos 2000. A nova versão possui um toque moderno e cinematográfico, mas com grande foco na jogabilidade cooperativa. No papel e pelo que havia sido apresentado, parecia o renascimento perfeito e colossal desse clássico. No entanto, na prática, o resultado é irregular – um jogo que impressiona pelo visual e a brutalidade de suas armas, mas tropeça em sua repetitividade, problemas técnicos e falta de identidade.
A história que tenta revisitar temas bíblicos com um tom mais leve, mas se perde entre o sério e o cômico. O jogador assume o papel de uma das quatro almas condenadas no Purgatório, os chamados Campeões, que recebem uma chance de redenção ao enfrentar as forças demoníacas de Azazel. Sob a orientação de Metatron, a “Voz do Criador”, o grupo embarca em uma cruzada brutal por salvação. O conceito inicial parece promissor ao misturar teologia e um tom cômico em meio à uma estética apocalíptica, mas se perde em um desenvolvimento raso. Mesmo com um potencial promissor em busca de redenção, os personagens são superficiais, os diálogos são forçados e sem graça e o desfecho chega sem aviso algum, como se estivesse incompleto. Já as tentativas de humor, elas quebram completamente o clima sombrio e de seriedade que o jogo tenta construir.
Apesar de errar na narrativa rasa, Painkiller realmente acerta em seu arsenal! Com seis opções principais, todas as armas possuem visuais inspirados em steampunk e ficção científica. Todas as armas possuem dois sistemas de disparos: o principal e um disparo alternativo que complementa o poder da arma. Além disso, todas elas podem ser aprimoradas com elementos como fogo, gelo e eletricidade. A sensação de poder é imediata, assim que pegamos nossa primeira arma. O principal destaque do arsenal são a Electrodriver, que dispara shurikens elétricos, enquanto a Stakegun atira estacas que causam um grande dano físico.
O título também se destaca pelo bom uso do controle Dualsense com seus gatilhos adaptativos e feedback háptico. Contudo, esse brilho técnico e brutal se perde na repetitividade e principalmente no design mal fraco das fases. As missões se resumem a arenas sucessivas com diversas hordas de inimigos, onde o level design e o caos visual sobressaem à jogabilidade, tornando-se repetitivo e cansativo.
O reboot de Painkiller aposta em uma estrutura totalmente cooperativa, seja online ou com bots. São nove missões principais, tratadas como incursões, divididas em três biomas: uma fabrica, cavernas corrompidas e uma versão destruída e decadente do Jardim do Éden. Apesar de todos os biomas serem impressionantes visualmente, as mecânicas dentro das fases se repetem constantemente – encher recipientes com sangue, escoltar objetos e abrir portas. Além disso, não é possível jogar solo, o jogo exige que companheiros controlados por IA te acompanhem. Infelizmente, os bots são inconsistentes, mas na maior parte do tempo estão desorientados e comprometem o fluxo da ação. Já no modo online, tive uma série de problemas com a conexão, como lags, inimigos sumindo e desconexões constantes.
O jogo também conta com um modo roguelike, misturando diversas arenas e desafios curtos com chefes principais. A ideia é boa, mas sem profundidade alguma. Falta variedade e progressão significativa, tornando-o apenas um passatempo entre as missões principais. O mesmo vale para os quatro personagens jogáveis: embora cada um tenha passivas e histórias próprias, as diferenças práticas são quase imperceptíveis. Pior ainda, no modo online, se outro jogador escolher o personagem que você queria, não há como repetir a classe.
A progressão é outro ponto fraco. O jogo utiliza moedas para desbloquear armas e modificações, mas o ritmo é arrastado. Quatro das seis armas estão trancadas atrás de preços elevados, obrigando o jogador a repetir fases diversas vezes apenas para acumular recursos. O resultado é uma sensação artificial de grind, sem recompensas satisfatórias.
A direção de arte é o maior acerto de Painkiller. Com uma estética de apocalipse angelical, o jogo se destaca por sua arquitetura gótica, sombras profundas que remetem ao divino e macabro ao mesmo tempo, assim, dando vida ao Purgatório. Além disso, as criaturas e armas se destacam em meio ao caos, os efeitos de luz e partículas são realmente impressionantes
A trilha sonora de Painkiller mantém o espírito pesado do original, com riffs de metal intenso e batidas industriais que combinam perfeitamente com o ritmo frenético do combate. As músicas reforçam a adrenalina dos tiroteios e os momentos caóticos.
No entanto, o desempenho técnico deixa a desejar. Durante minha jornada no PlayStation 5, houve quedas de taxa de quadros, travamentos ocasionais e diversos problemas sonoros – como vozes se sobrepondo ou até mesmo um silêncio abrupto.
Painkiller vale a pena?
Painkiller é um reboot ambicioso que acerta nas armas e na brutalidade, mas falha em quase todo o resto. A ação é divertida e visceral, porém repetitiva e tecnicamente instável. Falta carisma, identidade e polimento. Ainda assim, pode divertir fãs do gênero por algumas horas de caos cooperativo.










