Possessor(s) – Review

Possessor(s) – Review

A Heart Machine, estúdio por traz de grande títulos, como Hyper Light Drift e Solar Ash, retorna com um Metroidvania visualmente deslumbrante e repleto de boas ideias. Publicado pela Devolver Digital, o título possui uma jogabilidade desafiadora e um mundo melancólico, poético e repleto de grandes referências. Ambientando em uma cidade dominada por uma grande corporação, a narrativa conta com interações únicas entre Rhem e Luca (o ponto alto da jornada para mim) e uma história que vai muito além de demônios e a ganancia das grandes corporações. Em uma mistura de Soulslike e Metroidvania, temos um dos grandes jogos de 2025, brutal, belo e poético.

A história começa em Sanzu City, uma metrópole controlada pela Agradyne, megacorporação responsável por fornecer energia à cidade. No entanto, essa energia não vem de forma comum, ela é extraída por meio de experimentos com demônios aprisionados, usados como baterias vivas. Como era de se esperar, algo dá terrivelmente errado: uma explosão colossal abre portais dimensionais e liberta hordas demoníacas, matando milhares e colocando Sanzu em quarentena.

O jogo se inicia logo após esse desastre. Luca, a protagonista, desperta entre os destroços, sem as pernas. É então que surge Rhem, um enigmático demônio que lhe propõe um pacto: em troca de novas pernas, ela permitiria que ele possuísse seu corpo até conseguir retornar ao seu mundo. O acordo parece justo, mas não podemos confiar em um demônio, não é mesmo?

Apesar do pano de fundo da Agradyne e do caos em Sanzu, o verdadeiro coração da narrativa está na relação entre Luca e Rhem. A dinâmica entre o humano bondoso e o demônio arrogante lembra Yuji Itadori e Sukuna, de Jujutsu Kaisen, nas devidas proporções. Luca é empática, sempre preocupada com sua família e em encontrar sobreviventes, enquanto Rhem exala prepotência e sarcasmo. Esse contraste move a história e impulsiona o amadurecimento da dupla.

O passado de ambos também tem papel importante, revelado em fragmentos de memória espalhados pelo mapa. Em alguns, vemos Luca com amigos; em outros, Rhem sendo torturado nos laboratórios da Agradyne. Essas lembranças fortalecem o vínculo entre eles e ajudam a compreender suas motivações.

Possessor(s) é um Metroidvania 2.5D que possui uma das progressões mais estranhas para mim, e não falo isso de um jeito ruim. A cidade que é dividida em distritos interconectados, está repleta de segredos, atalhos, habilidades e áreas que só podem ser acessadas após desbloquear novas habilidade. Com pouquíssimas habilidades adquiridas é possível explorar grande parte do mapa, mesmo com sua faca de cozinha e equipamentos básicos, você pode explorar distintas regiões.

A progressão é excelente justamente pela liberdade oferecida ao jogador. Começa simples, com uma faca de cozinha, esquiva, pulo e um pequeno dash, mas logo evolui para um combate e exploração cheia de nuances. Uma das primeiras habilidades adquiridas é o chicote, que no combate serve para puxar inimigos, mas seu ponto forte é a exploração. Com ele podemos balançar em pontos de gancho e puxar objetos.

Outra habilidade que aprendemos logo cedo e é crucial, principalmente em lutas contra chefes é aparar os ataques. Além disso, ganhamos upgrades para nossas pernas, aumentando nossa velocidade, possibilidade de um dash rasteiro e quebrar blocos no chão com um golpe forte no chão. A evolução é constante e nunca em vão, tudo aprendido é utilizado, seja no combate ou na exploração.

O combate é uma experiência única, justamente pela possibilidade de poder misturar ataques, aparar e ainda ter alguns equipamentos únicos – como um mouse de computador. É possível combinar diversos estilos, principalmente quando se aprofunda e explora bem os mapas, coletando novas armas, melhorando Luca e adquirindo novas habilidades e equipamentos.

Infelizmente o jogo peca nos inimigos normais, apresentando uma grande variação em pouco tempo, mas é isso, em pouquíssimo tempo não temos novos inimigos apresentados. No entanto, os chefes são um destaque à parte, com um visual demoníaco e poético ao mesmo tempo, misturando sua humanidade com o mal. As batalhas exigem paciência e aprendizado, você não precisa ser perfeito para aparar todos os combates, mas isso te dá uma boa vantagem.

Outro aspecto que se torna cansativo são as arenas de combate que aparecem constantemente, não permitindo aos jogadores avançar sem derrotar todos os inimigos. Algumas delas são bem tranquilas, mas outras estão longe das fogueiras ou você chegou muito cedo e fraco para derrotar todos os inimigos.

Apesar do combate ser um grande destaque, eu amo explorar mapas, desvendar segredos e aprimorar o meu personagem o máximo que posso, e isso Possessor(s) entrega de forma primorosa (mesmo que seja meio linear às vezes). Sanzu City possui um mapa amplo e bem explicado, destacando missões e pontos de interesse, fogueiras e rotas de viagem rápida. As fogueiras servem como um ponto de descanso para recuperar vida, conversar com Rhem, que nos conta diversas curiosidades sobre itens, demônios e afins, dando mais contexto a lore do jogo.

Os inimigos dropam Croma, a sua essência e a moeda que utilizamos no jogo. Morrer significa perdê-la até retornar ao ponto da morte e recuperá-la, como um bom soulslike. Essa mecânica pode ser punitiva, então é sempre bom depositar suas Cromas quando estiver próximo de uma fogueira.

Durante a jornada, encontramos personagens curiosos e memoráveis. Entre eles, Buchecha, um rato possuído por um demônio responsável por consertar e aprimorar armas, e Tens, uma caçadora de demônios acompanhada por seu cachorro infernal, Vanth. São figuras excêntricas que expandem o universo e trazem um toque de humor e humanidade ao caos.

O primeiro impacto de Possessor(s) vem de sua direção de arte, antes mesmo da jogabilidade ou narrativa. É impossível não se encantar com o visual de Luca e Rhem. A estética mistura o anime dos anos 90 com o cyberpunk moderno, criando uma atmosfera que é ao mesmo tempo suja, elegante e profundamente melancólica.

Os cenários parecem pintados à mão, com iluminação intensa e contraste entre o neon e o concreto. Há beleza até nas ruínas: cada beco, cada prédio destruído transmite a sensação de um mundo em colapso. Mesmo com certa repetição em paletas e texturas, o estilo visual e a animação dos personagens sustentam a identidade única do jogo.

A trilha sonora é hipnótica, mesclando sintetizadores etéreos e batidas industriais. Durante a exploração, sons melancólicos reforçam o clima de solidão; nas batalhas, guitarras distorcidas e percussões eletrônicas elevam a intensidade. O resultado é uma experiência sonora que complementa perfeitamente o tom melancólico e caótico do jogo.

Possessor(s) vale a pena?

Possessor(s) vale muito a pena. A Heart Machine entrega um dos Metroidvanias mais divertidos de 2025, combinando jogabilidade desafiadora, narrativa emocional e um visual de tirar o fôlego. A relação entre Luca e Rhem é o grande destaque, trazendo profundidade e humanidade ao caos de Sanzu City. Com uma trilha sonora imersiva, direção de arte impecável e combates envolventes, o jogo equilibra brutalidade e poesia em uma experiência imperdível para fãs de ação e exploração.

Agradeço a Devolver Digital pelo envio do jogo para review!

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