Ball x Pit é mais uma adição ao gênero roguelite, mas com uma proposta ousada e inovadora: um gameplay em formato vertical, com uma estética e jogabilidade que remetem a clássicos do bubble shot. A combinação dá certo — e muito. Aqui, a inovação realmente chegou, trazendo uma experiência viciante e única para os fãs do gênero.
A trama é básica, mas serve bem como pano de fundo para a ação frenética. Após a queda de um meteoro, a cidade de Bololônia foi destruída, restando apenas uma enorme cratera. É nela que 16 personagens distintos encaram diversos perigos em busca de tesouros, riquezas e evolução. Não há profundidade narrativa — exceto pela descida sem fim no misterioso poço —, mas isso está longe de ser um problema: o foco é, com justiça, na jogabilidade.
Ao controlar um dos personagens, podemos nos mover em todas as direções, mas o destaque vai para a mira: os tiros são direcionáveis, permitindo acertar o maior número de inimigos com ricochetes e posicionamentos inteligentes. O jogador pode optar pelo disparo manual (com R2) ou automático — este último vem com uma penalidade: movimentação reduzida.
Os inimigos são estáticos, mas não se engane: o desafio aqui está no número e posicionamento deles. Muitos atacam à distância (com flechas, lasers, etc.), enquanto outros causam dano ao chegarem à parte inferior da tela. Isso exige atenção constante, estratégia e domínio da física dos tiros.
Ao derrotar inimigos, recebemos gemas de experiência que aumentam nossos atributos e desbloqueiam melhorias — tanto passivas quanto ativas. O arsenal é vasto e criativo: veneno, fogo, lasers horizontais e verticais, tornados engarrafados, explosões em cadeia, entre muitos outros. Cada run se transforma em uma experiência diferente graças à variedade de builds.
Durante as partidas, é possível interagir com pequenos portais coloridos (arco-íris) que ativam habilidades especiais. Entre elas, a mais relevante é a fissão, que upa equipamentos aleatoriamente, às vezes até cinco níveis de uma só vez. Também temos a evolução, que combina esferas para formar versões mais poderosas (semelhantes às encontradas durante upgrades). Por fim, a fusão permite unir duas esferas diferentes para criar uma nova, devastadora — e aqui reside o verdadeiro poder do jogador.
As partidas são divididas em três etapas. As duas primeiras trazem mini-chefes simples, porém letais se subestimados. A etapa final traz um boss com ponto fraco específico, exigindo estratégia, precisão e uso inteligente do ambiente — como paredes e inimigos — para rebater seus tiros e causar dano massivo.
Ball X Pit se destaca por incorporar elementos de gestão de recursos e construção, algo raro no gênero. Após cada partida, retornamos à base no topo da cratera, onde reconstruímos Bololônia. Podemos plantar trigo e florestas, recursos fundamentais para desbloquear novos personagens e estruturas, como abrigos (que liberam heróis) e salas de guerra (que fortalecem seus atributos).
Cada edificação oferece bônus passivos — como mais ataque, defesa ou velocidade —, tornando a gestão da cidade essencial para progredir nas partidas. A expansão da cidade exige dinheiro (dropado nas runs), e os diagramas para construir novas estruturas são encontrados aleatoriamente durante as partidas, criando uma sensação de descoberta constante. Felizmente, o jogo é justo e quase sempre oferece ao menos um novo diagrama por run.
São 16 personagens jogáveis, cada um com uma habilidade inicial específica. Alguns possuem mecânicas únicas, como o Pensador, que escolhe sozinho suas melhorias, ou um personagem que joga automaticamente, sem qualquer controle do jogador. Há ainda outro baseado em turnos, transformando completamente a dinâmica do gameplay. Com o avanço, o jogo permite até combinar dois personagens em uma única partida, criando sinergias únicas e oferecendo novas formas de abordar os desafios.
Cada fase possui ambientações distintas com efeitos próprios. No gelo, seu personagem pode escorregar; no deserto, a areia pode anular sua movimentação. Isso obriga o jogador a adaptar sua estratégia conforme o ambiente.
Além disso, os inimigos mudam constantemente — em uma fase atiram flechas, em outra, lasers — garantindo um crescimento gradual na dificuldade e incentivando o aprimoramento contínuo dos personagens.
A progressão de Ball X Pit é um dos seus maiores acertos. A cada partida, desbloqueamos novos personagens, habilidades ou construções. Sempre há algo novo para testar ou melhorar, o que torna o jogo altamente viciante e recompensador.
Mesmo quando uma run termina em derrota, o sentimento é de aprendizado e ganho — seja por novos recursos coletados, diagramas descobertos ou melhorias desbloqueadas.
Para os que dominam a campanha principal, o jogo oferece um modo New Game Plus (NG+), que eleva ainda mais a dificuldade, permitindo ao jogador reviver toda a jornada com novos obstáculos e exigências mais rigorosas. Um prato cheio para os fãs de desafios e da longevidade.
Visualmente, Ball X Pit adota um estilo retrô moderno, com gráficos top-down e estética minimalista, mas colorida. As arenas são vibrantes, com contraste nítido que facilita a identificação dos elementos na tela.
Apesar da grande quantidade de efeitos visuais — que às vezes pode causar certa poluição —, o jogo mantém uma apresentação limpa e fluida. O desempenho é sólido, sem quedas de frame ou travamentos, mesmo nos momentos mais caóticos.
A trilha sonora é simples, porém cativante, casando bem com a jogabilidade. Ela não rouba a cena, mas complementa com eficiência a imersão da descida.
Agradecimentos a Devolver Digital que nos enviou o jogo para a produção do review!
Conclusão
Ball x Pit é uma grata surpresa dentro do gênero roguelite, trazendo inovação real com sua jogabilidade vertical, mecânicas de construção e personagens únicos. A progressão constante, variedade de builds e a possibilidade de combinar personagens mantêm o jogo sempre interessante. Mesmo com visuais um pouco poluídos em certos momentos, a experiência geral é viciante e divertida. É um título que respeita o tempo do jogador e recompensa cada partida com algo novo.
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