Review | Final Fantasy Tactics: The Ivalice Chronicles – A obra-prima tática definitiva

Final Fantasy Tactics: The Ivalice Chronicles é mais do que um remaster. É um tributo de respeito a um dos RPGs táticos mais influentes e ousados já feitos. Com visual em HD, dublagem completa, melhorias de qualidade de vida e ajustes finos na jogabilidade, o jogo da Square Enix retorna com força total — e mostra que, mesmo após mais de duas décadas, continua sendo referência quando o assunto é narrativa política, estratégia profunda e construção de mundo.

Se você é um fã veterano, este é um reencontro emocionante com uma lenda. Se é novato, é o momento ideal para descobrir por que essa obra ainda ocupa um lugar sagrado na história dos RPGs.

Diferente dos JRPGs tradicionais da época, Final Fantasy Tactics sempre se destacou por evitar fórmulas batidas e abordagens infantis. Nada de cristais mágicos que escolhem heróis por acaso. Aqui, o enredo é terreno, sombrio e político até o osso.

A história se passa no reino de Ivalice, devastado por uma guerra de sucessão após a morte do rei. Nesse cenário instável, interesses da nobreza e da Igreja colidem, alianças se rompem, e decisões morais têm consequências reais. Enquanto no centro disso tudo está Ramza Beoulve, um jovem nobre que abandona o nome da família para seguir seus ideais.

A grande sacada do roteiro é o contraste com Delita Heiral, amigo de infância de Ramza. Enquanto um caminha pela verdade, o outro manipula o sistema para assumir o controle. O resultado é um dos melhores embates filosóficos e emocionais da história dos games: idealismo contra pragmatismo.

Nesta nova versão, o texto foi completamente revisado, ganhando um tom mais dramático e shakespeariano, fiel ao espírito da versão The War of the Lions. A dublagem é de altíssimo nível — cada personagem, de Ramza a Cid Orlandeau, entrega falas com peso teatral, elevando ainda mais a experiência narrativa.

Na jogabilidade, The Ivalice Chronicles se mantém fiel às raízes, com seu sistema de combate em grade isométrica que exige atenção total ao posicionamento, à ordem dos turnos e às habilidades utilizadas. A essência permanece impiedosa: cada movimento precisa ser calculado, cada ação deve considerar não só o inimigo à frente, mas o terreno, os obstáculos e o ritmo da batalha.

Porém, com uma série de ajustes pontuais, a experiência ficou muito mais agradável. Agora, é possível acelerar as batalhas com um simples toque no botão R1 — uma funcionalidade essencial para evitar longas esperas durante momentos de grind ou turnos previsíveis. Além disso, o jogo também exibe o layout completo dos mapas e a posição dos inimigos antes do combate, permitindo uma preparação estratégica mais precisa.

O sistema de autosave, que registra checkpoints automáticos durante as batalhas, reduz drasticamente a frustração de perder progresso após um erro tático isolado. Além disso, os infames castelos com batalhas consecutivas agora permitem pausas e reabastecimento, o que evitando que o jogador fique preso naquela parte e possa se preparar melhor.

O aclamado sistema de Jobs permanece como um dos pilares mais brilhantes do jogo. Com mais de vinte classes desbloqueáveis, cada uma com habilidades únicas e estilos próprios, a liberdade de criação de builds é quase ilimitada. Você pode criar um Cavaleiro com magias de cura, um Ninja com magias de tempo, ou um Mago Temporal com habilidades de ladrão e mobilidade absurda.

Além da classe principal e secundária, cada personagem pode equipar uma habilidade de reação, uma passiva de suporte e uma de movimento, o que multiplica ainda mais as possibilidades. A progressão entre classes também foi modernizada: a nova árvore de jobs deixa claro os pré-requisitos para desbloquear classes avançadas, evitando o velho problema de tentar avançar no escuro. A combinação entre liberdade e profundidade mecânica continua sendo um dos grandes diferenciais do jogo — e agora, com uma interface moderna, é ainda mais prazeroso experimentar e descobrir sinergias criativas entre as habilidades.

O conteúdo opcional também ganhou uma camada extra de refinamento. Missões paralelas como os errands (tarefas automáticas que rendem recompensas e expandem o lore), mercados secretos acessados por meio do sistema de poachers (que envolve capturar monstros de forma específica), personagens secretos, sidequests inéditas e até os livros interativos, antes exclusivos do Japão, enriquecem ainda mais o universo de Ivalice.

A presença de um novo mapa com marcadores visuais claros é outra adição bem-vinda: ele indica onde estão eventos importantes, sidequests e conteúdos secretos, poupando o jogador da dependência de guias externos ou pura sorte.

Visualmente, o jogo foi recriado em HD, com sprites limpos, cenários detalhados e uma paleta de cores mais viva. A essência da arte original está lá — os mapas têm profundidade, os efeitos de magias são belos, e as animações são mais suaves. Porém, os modelos em close-up ainda deixam a desejar: rostos levemente borrados e falta de animação facial quebram um pouco da imersão.

A trilha sonora, assinada pelo mestre Hitoshi Sakimoto, permanece intocada — e com razão. As composições continuam transmitindo grandiosidade, tragédia e tensão como poucos RPGs conseguiram fazer.

A dublagem completa, por outro lado, é uma adição monumental. Diálogos que antes precisavam ser lidos agora ganham vida com atuações intensas e cheias de emoção. O texto em inglês arcaico se transforma em uma experiência quase teatral — pesada, imersiva e impactante.

No entanto, é impossível ignorar o fato do jogo não estar localizado em português. Final Fantasy Tactics é um RPG com enredo denso, vocabulário rebuscado e sistemas complexos. A ausência de uma tradução oficial limita o acesso de muitos jogadores brasileiros, especialmente os mais jovens ou aqueles com menor domínio do inglês.

Agradecimentos a Square Enix que nos enviou o jogo para a produção do review!

Conclusão

Final Fantasy Tactics: The Ivalice Chronicles não traz grandes surpresas, nem tenta se reinventar. Em vez disso, faz o que poucos remasters têm coragem de fazer: lapidar um clássico sem apagar sua identidade. Faltam extras mais robustos, como os de War of the Lions, e a ausência do português é um tropeço. Mas, no que importa, o jogo entrega — e muito. É a melhor forma de jogar Final Fantasy Tactics até hoje.

Os veteranos reencontram um velho amigo que agora se expressa com mais clareza e intensidade. Já os novatos descobrem, neste momento ideal, por que tantos ainda consideram esse RPG tático um dos melhores do gênero.

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