Frostpunk 2 finalmente chega aos consoles, e com ele vem uma pergunta inevitável: como um jogo tão denso, tão complexo e tão voltado para decisões políticas, sociais e logísticas consegue se adaptar ao ambiente mais casual e limitado de um controle de videogame? A boa notícia é que, no geral, a adaptação funciona bem — embora não seja perfeita. Ainda assim, o que Frostpunk 2 oferece é uma das experiências mais profundas e moralmente exigentes que você pode ter no seu PlayStation.
A narrativa de Frostpunk 2 continua sendo um dos pilares da experiência. Desde o prólogo o jogo constrói um mundo onde cada decisão ecoa com gravidade. Você sente o peso de comandar uma sociedade desesperada por sobrevivência, onde cada escolha — por mais racional que pareça — pode custar vidas ou abalar o equilíbrio político.
Além do modo história, o jogo conta com um modo sandbox onde é possível construir sem as pressões narrativas. É uma excelente adição para quem deseja explorar os sistemas do jogo de forma mais livre e menos punitiva.
A rejogabilidade é enorme. As possibilidades políticas são vastas: você pode governar com mão de ferro, tentar agradar todas as facções ou seguir uma ideologia específica. Cada caminho abre portas (e fecha outras), tornando cada campanha única.
Ao trazer um jogo desse calibre para os consoles, o maior desafio da 11 bit studios foi tornar acessível uma experiência de gerenciamento complexa em uma interface que não permite a precisão do mouse e teclado. A solução veio por meio de um sistema de menus radiais, atalhos por botões nos ombros do controle (bumpers e gatilhos) e um redesenho completo da interface para funcionar em telas de TV — e, no geral, a adaptação é satisfatória.
Com alguns toques, é possível alternar entre distritos, abrir o menu de construção ou verificar recursos. O menu radial é intuitivo após algumas horas de jogo, e os botões de atalho facilitam a vida em momentos de urgência. No entanto, tarefas mais precisas, como selecionar edifícios específicos ou ajustar a produção manualmente, ainda são um pouco engessadas com o controle. A curva de aprendizado é real, e não há tanto suporte para novos jogadores quanto seria ideal. Não espere tutoriais interativos extensos — Frostpunk 2 joga você direto no abismo congelado e espera que você aprenda a escalar.
Enquanto o primeiro Frostpunk colocava o jogador no comando de um único gerador e sua comunidade ao redor, Frostpunk 2 escala o escopo dramaticamente. Trinta anos se passaram desde os eventos do jogo original, e agora você está à frente de uma cidade inteira, dividida em distritos com sistemas próprios, diferentes ideologias e facções internas que constantemente disputam poder e influência.
A cidade cresce em escala, e com isso, as decisões também. Cada distrito pode representar uma ideologia distinta — tecnocratas, autoritários, democratas, religiosos — e equilibrar os interesses de cada um é um exercício contínuo de malabarismo político. Escolhas aparentemente simples, como aprovar uma nova lei ou redirecionar recursos para uma área específica, têm ramificações ideológicas e sociais que podem gerar instabilidade, protestos ou até rebeliões.
Essa complexidade torna o jogo menos sobre microgerenciar pessoas e mais sobre lidar com sistemas amplos, ideologias e políticas públicas — e embora isso possa afastar jogadores que gostavam da intimidade do primeiro título, oferece uma profundidade rara para quem aprecia estratégia com peso moral e político.
Visualmente, Frostpunk 2 mantém a estética gélida e desesperadora que marcou o primeiro jogo, mas com melhorias notáveis. As tempestades de neve que tomam a tela, o brilho quente das zonas aquecidas, os efeitos de iluminação e os detalhes na arquitetura transmitem uma sensação constante de urgência, perigo e progresso.
No PS5, o jogo oferece modos de fidelidade e desempenho. No modo de fidelidade, os gráficos são mais ricos, com iluminação mais realista e texturas nítidas, rodando a 30fps. Enquanto no modo desempenho, o jogo atinge 60fps, com uma leve perda visual — ideal para quem prefere fluidez. Há também uma opção intermediária de 40fps para quem tem telas com suporte a 120Hz. Em geral, o jogo roda bem, mas em cidades maiores, com muitos elementos ativos na tela, é possível notar quedas de fps pontuais e leves travamentos em menus mais pesados.
Um dos maiores acertos aqui e que realmente tornam o jogo mais acessível é o fato de estar em português. Para nós, jogadores brasileiros isso é um grande deleite, visto que o jogo é denso e repleto de mecânicas.
Apesar dos esforços da desenvolvedora, a interface de Frostpunk 2 no console ainda carrega algumas limitações. Abrir o mapa expandido da cidade, navegar entre distritos e selecionar construções pode exigir mais passos do que o necessário, e o sistema nem sempre responde de forma precisa — por vezes, você seleciona o distrito errado ou precisa repetir comandos.
Além disso, algumas telas apresentaram congelamentos durante a navegação em determinadas sessões, algo particularmente frustrante em um jogo onde tempo e decisão são cruciais. Esses problemas, ainda que não recorrentes ao ponto de quebrar a experiência, diminuem o ritmo e causam frustração, principalmente quando ocorrem durante momentos críticos da partida.
No campo da acessibilidade, o jogo oferece algumas opções básicas — como redimensionamento de texto e remapeamento limitado de botões —, mas ainda há bastante espaço para melhorias, especialmente para jogadores com necessidades motoras ou cognitivas. A interface continua densa e com muitos submenus, o que pode ser avassalador até mesmo para veteranos.
Agradecimentos a 11 bit studios que nos enviou o jogo para a produção do review!
Conclusão
Frostpunk 2 é uma adaptação ambiciosa e, na maior parte do tempo, bem-sucedida de um jogo de estratégia profundo, político e moralmente denso. Embora a interface tenha limitações e a curva de aprendizado seja íngreme, a experiência permanece envolvente, recompensadora e única nos consoles. As decisões têm peso real, a ambientação é impactante, e a rejogabilidade é imensa. Não é para todos, mas quem persistir encontrará um dos jogos mais intensos do gênero.
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