Review | Little Nightmares III – Dessa vez você não está sozinho

Little Nightmares III não é apenas uma sequência da série; é uma ousada reinvenção do horror de plataforma que traz uma nova dinâmica com seu modo cooperativo online. Enquanto os dois primeiros jogos prenderam jogadores com suas atmosferas sombrias, puzzles desafiadores e aquele sentimento constante de vulnerabilidade, esta nova entrada tenta equilibrar a tensão assustadora com a interação social, algo raro em um universo tão claustrofóbico e opressor.

No centro da narrativa, temos Low e Alone, dois protagonistas que embarcam em uma jornada angustiante pelo Nowhere, um reino desolado, um grande pesadelo que só pode ser acessado através do sono. Presos dentro do Spiral, um conjunto de lugares perturbadores, os dois amigos precisam trabalhar juntos para sobreviver a inimigos hostis e escapar das garras de uma ameaça ainda maior escondida nas sombras.

Com o passar dos capítulos entendemos melhor o que realmente está acontecendo e conseguimos prever o climax do jogo com um pouco de antecedência, mas isso não tira o peso da narrativa e você continua em choque com certas abordagens.

Outro ponto importante é que Little Nightmares III toca em assuntos fortes de uma maneira simples, mas que passa mensagens fortes para os jogadores. Ao longo da jornada eu percebi que o jogo passa a mensagem de que TODOS precisam de ajuda e não é vergonhoso ter alguém ao lado. Toca em assuntos como traumas e abusos, medos e ansiedade, indo muito além de um jogo simples e bobo, desde que você saiba absorver as mensagens.

A narrativa se desenrola de uma forma natural e com o mesmo terror dos jogos anteriores, no entanto com algumas surpresas em seu final. Os traumas nunca acabam nessa franquia, não é mesmo? No entanto, algo que pode decepcionar muitos é a duração da campanha. Jogando com um amigo, finalizamos a campanha principal e quase todos os colecionáveis e extras em pouco mais de 5 horas.

Cada personagem tem habilidades únicas que influenciam diretamente na jogabilidade. Low, o menino de capa azul e máscara de corvo, utiliza um arco que serve tanto para cortar cordas quanto para afugentar inimigos. Já Alone, a garota de macacão verde e cabelos em maria-chiquinhas, carrega uma chave inglesa capaz de quebrar barreiras e ativar mecanismos. Agora é possível enfrentar os horrores desse universo com um amigo via co-op online, ou jogar sozinho, com um companheiro controlado por IA.

O modo cooperativo, peça central desta versão, traz um frescor para a jogabilidade tradicional da série, mas não sem seus desafios. Os puzzles agora exigem coordenação entre Low e Alone, demandando ações sincronizadas como puxar alavancas, mover plataformas e escapar de armadilhas — um verdadeiro teste de paciência e comunicação. A decisão de permitir que os jogadores se movimentem livremente pela tela, sem o uso de split-screen, amplia a sensação de descoberta e liberdade, ainda que torne a cooperação mais desafiadora. Essa dinâmica permite aos jogadores explorarem mais de um ambiente ao mesmo tempo, principalmente em lugares com várias entradas e portas.

Outra grande novidade é o sistema de combate, que adiciona uma camada de estratégia. Low dispara flechas para incapacitar os inimigos, enquanto Alone dá o golpe final com sua chave inglesa. A dinâmica cria uma parceria sólida, mas mortes instantâneas e a necessidade de reaprender padrões de ataque podem gerar momentos frequentes de frustração. Isso se intensifica nos encontros com chefes, que às vezes apresentam padrões confusos e mal sinalizados, exigindo repetições excessivas e testes por tentativa e erro. Os checkpoints também nem sempre colaboram, obrigando o jogador a refazer longos trechos.

Ainda assim, o jogo brilha nos momentos de leveza que fogem do terror. A possibilidade de atirar balões, espantar corvos ou destruir objetos adiciona camadas de humanidade aos personagens e cria pausas bem-vindas entre os sustos. A ambientação sonora segue impecável, intensificando a sensação de perigo iminente mesmo quando se está acompanhado.

Visualmente, Little Nightmares III mantém a identidade suja e sombria que os fãs adoram.Cada ambiente, das areias do deserto às névoas de um parque abandonado, é uma pintura macabra que convida à exploração. Os cenários mais claustrofóbicos do Spiral ampliam essa atmosfera, tornando cada passo tenso e visualmente impressionante. O design das criaturas continua impressionante, combinando o grotesco e o bizarro de forma a despertar tanto nojo quanto curiosidade.

A ausência de diálogos reforça o estilo silencioso da série, onde o ambiente fala mais alto, recheado de pistas sutis e segredos que instigam o jogador a montar a história pelas entrelinhas. Embora o enredo seja mais sutil do que expansivo, cada cenário é meticulosamente construído para deixar uma marca de inquietação e mistério.

Agradecimentos a Bandai Namco que nos enviou o jogo para a produção do review!

Conclusão

Little Nightmares III expande a fórmula da série com coragem, apostando na cooperação sem abandonar o clima opressivo que a consagrou. Apesar de tropeços nos combates e na fluidez da narrativa, entrega uma experiência visualmente marcante, com ambientação impecável e momentos de verdadeira tensão. É uma evolução interessante, mesmo que não agrade a todos os fãs puristas.

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