Nine Sols foi amor à primeira vista. Com uma arte distinta e um combate que parecia puxar o melhor de Hollow Knight e Sekiro, o título da RedCandle Games entrega mais do que uma homenagem ao gênero: oferece uma experiência intensa, mística e desafiadora. Com uma identidade própria e narrativa cheia de significado, é um dos jogos mais marcantes do ano — mesmo que o The Game Awards tenha ignorado completamente sua existência.
A história de Nine Sols gira em torno de Yi, um guerreiro ressuscitado em busca de vingança contra os “Nove Sols”, seres imortais que governam New Kunlun, um mundo distópico repleto de mistério, tradição e ficção científica. Traído por um de seus mentores e dado como morto, Yi emerge anos depois com apenas um objetivo: confrontar os Sols e entender a verdade por trás da divindade que eles representam.
A ambientação bebe diretamente da mitologia oriental, em especial o taoismo, e mistura esse misticismo com conceitos tecnológicos e existencialistas. Durante sua jornada, Yi não apenas enfrenta guerreiros poderosos, mas também sua própria moralidade, dilemas sobre vida, sacrifício e o real sentido da redenção.
A narrativa é contada com sensibilidade e estilo: diálogos densos com NPCs, cutscenes em formato de quadrinhos e momentos de silêncio que falam por si. Cada um dos Nove Sols tem personalidade e história próprias, criando não apenas desafios mecânicos, mas confrontos emocionais. Embora a trama seja envolvente, sua entrega exige atenção e paciência: quem não estiver disposto a mergulhar no universo proposto pode se sentir perdido em meio a tantos símbolos e mensagens filosóficas.
Se Nine Sols é lembrado por algo, será por seu combate. Com clara inspiração em Sekiro, o sistema de parry é o coração das lutas: ritmo, precisão e leitura de padrões inimigos são fundamentais. Os confrontos têm um tempo próprio — quase como uma dança — e dominar essa cadência transforma o desespero em prazer.
Cada parry bem executado acumula energia interna nos inimigos, que pode ser liberada com Talismãs, infligindo grandes danos. É um sistema que recompensa timing e paciência, punindo qualquer ação impulsiva. Enquanto os chefes são o ápice dessa mecânica, forçando o jogador a aplicar tudo que aprendeu e adaptando-se a padrões únicos e implacáveis.
O combate também evolui ao longo do jogo. Yi desbloqueia habilidades como dash, pulo duplo e ataques especiais. O arco e flecha é integrado à gameplay como ferramenta complementar, expandindo as opções em batalha. Uma árvore de habilidades permite personalizar o estilo do personagem, com melhorias tanto ofensivas quanto defensivas.
No entanto, a exigência do combate pode afastar muitos jogadores. Mesmo o modo história, que oferece uma dificuldade reduzida, não elimina a necessidade de dominar a mecânica de parry. Em lutas prolongadas, o timing apertado pode ser frustrante, especialmente em inimigos que mudam padrões de forma repentina. A curva de aprendizado é íngreme — mas, para quem persevera, as recompensas são inegavelmente satisfatórias.
Nine Sols adota a clássica estrutura Metroidvania com maestria. Além disso, o mundo de New Kunlun é interconectado, cheio de passagens secretas, caminhos que se revelam com novas habilidades e áreas que voltam a ser acessadas depois de longas horas. Como resultado, a recompensa pela exploração é constante: upgrades, itens de lore, segredos e novos confrontos que expandem a narrativa e o universo.
As quests secundárias envolvem personagens que vivem à margem dos deuses e dos conflitos centrais. Muitas dessas histórias apresentam tons trágicos, mas também momentos de leveza e humanidade. Itens como fragmentos de melhoria, cachimbos e memórias reforçam a sensação de que cada descoberta tem peso.
O level design demonstra cuidado, e mesmo com a dificuldade elevada, o jogo raramente torna a progressão injusta. Porém, em alguns momentos, o jogo falha ao comunicar claramente para onde o jogador deve ir, especialmente após derrotar certos chefes ou desbloquear habilidades. Essa falha pode causar trechos de backtracking excessivo ou a sensação de estar “preso” sem orientação — problema que ajustes sutis no design do mapa poderiam suavizar.
O estilo visual de Nine Sols é simplesmente cativante. Com arte desenhada à mão, animações fluidas e ambientação única, o jogo mistura ruínas tecnológicas, templos místicos e natureza viva em um só mundo. Além disso, cada área tem identidade própria, com transições visuais que reforçam a narrativa e biomas que surpreendem mesmo nas últimas horas.
A atmosfera cria uma sensação densa e muitas vezes contemplativa. A trilha sonora sustenta esse clima com perfeição: ela mistura música tradicional chinesa com texturas industriais, adaptando suas faixas ao ritmo da exploração e explodindo em intensidade durante os combates. O jogo sabe exatamente quando deve ficar silencioso — e quando deve gritar.
Por fim, os efeitos sonoros, como o estalo de um parry bem executado ou o som metálico de um golpe bloqueado, trazem peso e impacto para cada ação. Tudo isso reforça a imersão de uma forma quase sensorial.
Agradecimento a Red Candle Games que nos enviou o jogo para a produção do review!
Conclusão
Nine Sols é uma obra-prima que mistura combate desafiador, narrativa profunda e arte impressionante em um universo único. Apesar da curva de aprendizado exigente e momentos de confusão no mapa, sua experiência mística e envolvente recompensa a perseverança. O jogo brilha na ambientação, trilha sonora e design, entregando um Metroidvania moderno com alma e estilo. Para fãs do gênero que buscam desafio e história, é imperdível.
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