Ninja Gaiden: Ragebound é mais do que uma carta de amor aos clássicos do Mega Drive. Com visual pixelado refinado, combate ágil e brutal, e uma estrutura de fases que remete aos velhos tempos, o novo título da The Game Kitchen (de Blasphemous) não apenas celebra o legado de Ryu Hayabusa, como também o reimagina para uma nova geração. Ragebound é frenético, estiloso e surpreendentemente acessível — sem perder o fio da dificuldade que consagrou a franquia.
Logo na introdução, somos levados a uma tutorial retrô que ensina o básico: saltos, escaladas, ataques e o primeiro contato com os colecionáveis — caveiras de cristal espalhadas pelas fases. Inimigos como ninjas e samurais nos desafiam com ataques variados, desde shurikens a combos de katana. A sensação é de reviver um clássico perdido da era 16 bits, mas com o refinamento técnico dos dias atuais.
Após o prólogo, a história nos leva ao presente. Kenji, um jovem guerreiro, treina com Ryu em um dojo isolado. Nesse momento, o jogo apresenta novas mecânicas: o jogador pode rolar para desviar de golpes, canalizar ataques poderosos que consomem vida e executar o “golpe guilhotina” — um segundo pulo ofensivo que combina mobilidade e dano.
Mas tudo muda quando demônios descem das montanhas. Ryu recebe o testamento de seu pai e parte para os Estados Unidos com a Espada do Dragão, deixando Kenji encarregado de proteger o Japão. Assim começa uma jornada que mistura amadurecimento, sacrifício e autoconhecimento. Kenji, agora sozinho, deve conter a invasão demoníaca e dominar o próprio poder, enquanto busca sua paz interior.
O level design é um espetáculo à parte. As fases são lineares, com influência direta dos jogos de ação do Mega Drive: inimigos surgem dos cantos da tela, há armadilhas como colunas de fogo, e o ritmo é constante. Cada fase termina com um chefe único, que exige domínio das mecânicas e timing de esquiva, contra-ataque e sacrifício. Em muitos momentos, será necessário arriscar vida com golpes canalizados para atordoar o inimigo e abrir janelas de dano.
As animações de finalização são verdadeiros quadros vivos — brutais, belos e carregados de estilo. É um espetáculo visual que homenageia os jogos de luta e os animes dos anos 90.
Além das fases principais, cada estágio esconde objetivos secundários que influenciam na pontuação final — indo de D até S++. Para alcançar o topo, é preciso derrotar inimigos com eficiência, evitar danos, encontrar todos os colecionáveis e completar a fase rapidamente.
Entre os colecionáveis, temos também escaravelhos dourados, que podem ser trocados com o misterioso Muramasa por melhorias nas armas e técnicas. Ele também vende talismãs — itens passivos que alteram a jogabilidade, como recuperar vida com combos ou causar mais dano quando estiver quase morto. Há um total de 19 talismãs, alguns voltados para desafio extremo, como triplicar o dano recebido ou bloquear qualquer recuperação de vida. A busca pelos 60 escaravelhos se torna mais do que opcional: é parte central da progressão.
Na segunda fase, o jogo apresenta Kumori, uma das Ninjas da Aranha Negra — e também uma personagem jogável. Enquanto Kenji foca no combate corpo a corpo, Kumori ataca à distância com kunais. Ela realiza ataques em 360º e domina o controle aéreo, mantendo a essência do gameplay, mas com uma abordagem totalmente nova.
Essa variedade também aparece em fases únicas, como uma sequência de moto em alta velocidade, cheia de inimigos e armadilhas constantes, e um trem colossal que o jogador precisa danificar enquanto desvia de buracos no caminho. Esses momentos quebram o ritmo tradicional com criatividade e tensão.
A trama evolui rapidamente. Após um acontecimento catastrófico, Kenji e Kumori se fundem em um só corpo e combinam espadas e kunais. O combate atinge um novo nível: o botão quadrado mantém os ataques corpo a corpo, enquanto o jogador lança kunais com o botão círculo, consumindo Ki — um recurso que exige gerenciamento.
A novidade se aprofunda com a Arma Aranha, uma foice que atravessa obstáculos e paredes, ideal para inimigos protegidos. A recarga de Ki pode ser feita ao derrotar inimigos ou coletar orbes.
Inimigos especiais com auras também alteram a dinâmica: azul exige combate direto, vermelho exige ataques à distância. Essa leitura de campo cria uma dança estratégica constante entre os dois estilos de luta. Além disso, a habilidade secreta Arte Ragebound permite ataques em área com orbes flutuantes, criando espaço e dano em momentos críticos.
Outra adição interessante são os Altares Demoníacos — portais temporários que conectam Kumori ao mundo dos demônios. Nesses momentos, entramos em fases de plataforma e exploração mais técnica, com novos desafios como kunais que ativam teletransportes. Os segmentos exigem precisão e criatividade, dando um ar de “mini-dungeons” com design diferenciado.
O jogo ainda oferece Operações Secretas: fases opcionais mais difíceis, cheias de segredos e colecionáveis. Completar essas missões desbloqueia novos itens na loja de Muramasa e prolonga o endgame com conteúdo significativo. É preciso destacar como a progressão aqui é gostosa e bem feita, pois, ao desbloquear colecionáveis você pode adquirir mais talismãs e Artes Ragebound, enquanto desbloqueia novas fases e desafios, deixando o jogo sempre com novo conteúdo.
A direção de arte é um dos maiores trunfos. Com sprites detalhados e animações fluidas, cada personagem e inimigo carrega identidade e carisma. As fases são visualmente variadas, indo de vilarejos em chamas a templos antigos, passando por prédios tecnológicos das Aranhas Negras.
O trabalho sonoro é igualmente impressionante. A trilha sonora — composta por Sergio de Prado, Keiji Yamagishi, Kaori Nakabai e Ryuichi Nitta — mistura guitarras, instrumentos orientais e momentos introspectivos com maestria. Ela cresce junto com a ação, mas sabe silenciar quando necessário.
Apesar da dificuldade natural da franquia, Ragebound oferece uma série de opções de acessibilidade: ajustes no dano recebido, empurrões ao levar golpes, velocidade do jogo e outros facilitadores tornam o título jogável até mesmo para iniciantes.
Além disso, o jogo está totalmente localizado em português do Brasil, com menus, legendas e descrições acessíveis, o que facilita ainda mais a imersão e personalização das builds. Tecnicamente, o desempenho é sólido. Sem bugs graves, crashes ou quedas de framerate — tudo funciona como deveria, mesmo em momentos de caos total na tela.
Agradecimentos a Dotemu que nos enviou o jogo para a produção do review!
Conclusão
Ninja Gaiden: Ragebound não é apenas um revival; é uma carta de respeito, releitura e amor por tudo que a série representa. A The Game Kitchen entrega um dos melhores jogos de ação em 2D dos últimos tempos — intenso, técnico, estiloso e memorável. Seja você fã de longa data ou um novato curioso, Ragebound é um convite para mergulhar em um mundo de honra, sangue e redenção.
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