Review | RAIDOU Remastered: The Mystery of the Soulless Army – Um clássico renovado, mas preso ao passado

Review | RAIDOU Remastered: The Mystery of the Soulless Army – Um clássico renovado, mas preso ao passado

Raidou Remastered: The Mystery of the Soulless Army é uma remasterização simples, mas ambiciosa do subestimado título da ATLUS, originalmente lançado em 2006 para PlayStation 2. A nova versão para o PlayStation 5 moderniza diversos pontos da obra, mas o grande ponto principal de seu relançamento é apresentar o jogo para um novo público. A remasterização vai muito além de visuais renovados, mas também melhora alguns sistemas do jogo trazendo-os para os padrões mais atuais da indústria.

Raidou Remastered possui uma narrativa boa para época, mas envelheceu muito mal, não se compara com os títulos atuais da ATLUS. O jogo se passa no período Taisho do Japão, onde acompanhamos a história de Raidou Kuzunoha, um jovem designado como o 14° detetive Devil Summoner, que tem a missão de proteger Tóquio das ameaças demoníacas. A missão de Raidou começa quando misteriosos soldados de capa vermelha sequestram uma jovem, envolvendo-o em uma conspiração gigantesca que vai além dos demônios — incluindo grandes organizações secretas e figuras históricas.

A narrativa é contada através de episodio, onde a cada novo capítulo novas áreas são liberadas para explorar enquanto novos segredos são revelados. No entanto, a história peca em dar profundidade aos vilões e seus objetivos, onde se baseia apenas em organização do bem versus organização do mal. Embora os demônios aliados sejam cativantes e possuam personalidades próprias, a trama carece de reviravoltas e personagens humanos marcantes, que possam criar vínculos com os personagens.

Apesar da narrativa rasa e a falta de profundidade, a jogabilidade teve boas melhorias. O sistema de combate foi completamente retrabalhado, substituindo o sistema limitado do PS3 por uma experiência mais dinâmica e fluida. O jogo agora possui câmera livre e controle total sobre Raidou, onde os combates misturam um pouco de estratégia ao utilizar seu demônios aliados e um Hack and slash simplificado, nada repleto de combos mirabolantes. É possível levar até dois demônios aliados para cada batalha, alterando-os conforme necessário para explorar as fraquezas dos inimigos. Apesar do combate simples, a ação é rápida e possui controles bem responsivos, permitindo pequenas pausas para troca de habilidades ou par analisar os inimigos, sendo uma experiência profunda, mas também acessível.

Além disso, os desenvolvedores ampliaram as habilidades de Raidou: agora ele pode alternar entre diferentes conjuntos de habilidades apenas pressionando R1, adaptando-se ao combate com magias elementais, técnicas físicas ou estratégias de suporte tático. No entanto, o uso de magias é escasso, pois a barra de elementos se esgota muito rápido durante o combate. Isso obriga o jogador a adaptar-se ao combate simples ou estocar itens para recuperar mana, tornando as batalhas cansativas e repetitivas.

Outro grande destaque é a mecânica de captura e fusão de demônios – algo que já conhecemos da franquia Shin Megami Tensei e até mesmo Persona para os fãs mais recentes da ATLUS. Raidou pode convencer novas criaturas a se unirem a ele durante batalhas, desde que tenha MAG suficiente e saiba as palavras certas para convence-los. É aqui um dos grandes destaque e onde o jogo possui certa profundidade, na personalidade dos demônios.

Esses demônios deixam de ser simples ferramentas e passam a agir como aliados reais: oferecem presentes, reagem à conduta do protagonista e até expressam sentimentos — como tristeza ao serem fundidos para criar novos demônios. Essa profundidade torna cada fusão um dilema moral e emocional. Os próprios demônios deixam cartas de despedida para o jogador — algumas de agradecimento, outras de pesar. Esse pequeno detalhe transforma completamente o sistema de fusões, tornando-o a parte mais profunda e emocional do jogo.

A exploração também teve pequenas melhorias. Os mapas agora são melhores iluminados, possuem cores mais vivas e sua clareza visual foi melhorada. Os itens no chão brilham com mais intensidade, facilitando sua coleta. No entanto, a câmera é um problema sério, apesar de ser livre durante o combate, ela é estática em certas partes da exploração urbana. O jogo oferece viagem rápida, facilitando o acesso a áreas específicas e evitando a frustração causada pela câmera fixa durante a exploração.

Uma das mudanças mais bem-vindas diz respeito aos encontros aleatórios. No jogo original, eles eram excessivos e ocorriam até mesmo em cidades, o que quebrava o ritmo da exploração. Agora, inimigos aparecem visivelmente no mapa e podem ser enfrentados ou evitados conforme a escolha do jogador. Isso dá mais controle e fluidez à experiência, e permite ao jogador engajar-se mais nas várias missões secundárias espalhadas por Tóquio.

Essas missões extras, apesar de sua estrutura simples (buscar um item, derrotar um inimigo, falar com um NPC), são recompensadoras, especialmente por oferecerem recursos importantes para fortalecer as armas e habilidades de Raidou. No entanto, não escapam da sensação de serem relíquias de uma era passada, e poderiam ter recebido uma renovação mais profunda para se alinharem à qualidade da jogabilidade principal.

No quesito técnico, Raidou Remastered apresenta um desempenho sólido no PlayStation 5, com carregamentos rápidos e uma taxa de quadros estável. Os gráficos receberam um bom polimento, com personagens principais e demônios ganhando modelos detalhados, efeitos de luz aprimorados e animações mais suaves. Por outro lado, NPCs secundários ainda são genéricos, destoando dos personagens centrais. Mantiveram quase intacta a trilha sonora original, que traz influências de jazz e mistério. Quero destacar a falta de localização em PT-BR atrapalha totalmente a imersão no jogo, algo bem triste para uma remasterização lançada em 2025.

Uma possível reclamação é a remoção dos efeitos de sangue nas batalhas e cinemáticas, já que o original usava essa violência para reforçar a atmosfera sombria. A decisão soa arbitrária, principalmente quando o restante do conteúdo do jogo continua abordando temas maduros e complexos, como possessão, morte e corrupção. Ao menos, poderiam deixar uma opção de habilitar ou desabilitar sangue e efeitos do tipo.

Agradecimentos a SEGA que nos enviou o jogo para a produção do review!

Conclusão

Raidou Remastered: The Mystery of the Soulless Army é uma remasterização sólida que moderniza a jogabilidade e visual de um clássico subestimado, mas não consegue atualizar sua narrativa datada. Com combates dinâmicos, fusões emocionantes e melhorias na exploração, oferece uma experiência acessível, mas repetitiva. Ainda assim, é uma porta de entrada interessante para novos fãs da ATLUS, apesar das limitações herdadas do original.

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