Jogar videogame desde o final dos anos 90 traz um tipo especial de nostalgia. A gente acaba lembrando com carinho de grandes jogos que marcaram época — e felizmente, muitos deles estão voltando, seja em forma de remasterizações, remakes ou portes. Esse é o caso de SaGa Frontier 2 Remastered, uma grata surpresa que resgata um dos JRPGs mais profundos, desafiadores e artisticamente únicos da época de ouro da Square Enix.
SaGa Frontier 2 se passa no continente fictício de Sandail e acompanha duas narrativas principais que se entrelaçam ao longo dos anos. Gustave XIII, herdeiro exilado que busca recuperar seu direito ao trono, e William Knights, um jovem envolvido em uma investigação sobre a misteriosa morte dos pais, que logo se vê em meio a uma trama muito maior, repleta de conspirações e segredos que ameaçam todo o reino.
O ponto alto da narrativa é justamente sua não-linearidade — o jogo é apresentado em uma linha do tempo que permite ao jogador escolher as missões que deseja seguir, com eventos se desenrolando em diferentes anos e locais. Essa estrutura, inicialmente confusa, pode fazer com que o jogador pule eventos importantes sem perceber, mas com o tempo, a própria linha do tempo acaba ajudando a organizar tudo e traz uma sensação de mundo vivo e em constante evolução.
Outro destaque do jogo é a grande quantidade de personagens secundários, que tornam o mundo ainda mais rico e a narrativa mais envolvente. Suas histórias pessoais e motivações são melhor exploradas na remasterização, graças à adição de novas cenas que ampliam o entendimento sobre o universo do jogo. Além disso, SaGa Frontier 2 conta com um antagonista pouco lembrado, mas memorável: Egg, que consegue equilibrar um tom sombrio com pitadas de humor, dando mais personalidade à trama.
No entanto, o jogo mantém algumas características que podem exigir um pouco mais de paciência, especialmente dos novos jogadores. O sistema de combate, por exemplo, é bem diferente do que estamos acostumados em JRPGs convencionais. Aqui, é preciso pensar estrategicamente em cada ação, administrando cuidadosamente três tipos de pontos dos personagens: Life Points, Skill Points e Weapon Points. Gastá-los de forma irresponsável pode resultar em batalhas extremamente difíceis, o que reforça o caráter punitivo e tático do jogo. Ainda assim, é um sistema recompensador para quem gosta de pensar cada movimento, e a possibilidade de herança de equipamentos e habilidades entre personagens ajuda a equilibrar a curva de dificuldade, evitando que novos aliados se tornem um peso no grupo.
Outro aspecto interessante das batalhas é a dinâmica entre grupos divididos. Algumas lutas mudam completamente dependendo da formação, trazendo variedade ao combate e incentivando o jogador a experimentar estratégias diferentes. Para aliviar a jornada, a remasterização inclui a tão bem-vinda opção de acelerar combates, uma funcionalidade moderna que facilita o grind e torna os encontros aleatórios menos cansativos.
Visualmente, o jogo é um espetáculo à parte. Os fundos desenhados à mão, que lembram páginas de livros ilustrados, foram mantidos e agora brilham ainda mais em widescreen 16:9. A arte tradicional é respeitada ao mesmo tempo em que ganha uma nova vida com a resolução moderna. Em alguns momentos, porém, o uso de upscaling via inteligência artificial pode gerar leves inconsistências visuais, onde o cenário parece destoar dos personagens — felizmente, são raros e não comprometem a experiência.
A trilha sonora remasterizada, composta por Masashi Hamauzu, é outro ponto que merece aplausos. Com melodias marcantes e emotivas, ela ajuda a estabelecer o clima de cada área e combate, mergulhando o jogador naquele universo nostálgico e mágico. É impossível não se emocionar ao ouvir certas músicas que remetem à simplicidade e encantamento dos jogos antigos.
Ainda assim, nem tudo foi modernizado com a mesma eficácia. Um dos maiores problemas da versão original — a falta de explicação clara sobre suas complexas mecânicas — continua presente. O jogo não se preocupa em ensinar detalhadamente seu sistema de combate, o que pode frustrar jogadores menos experientes, já que muito do aprendizado acontece na base da tentativa e erro. Também é possível se sentir perdido nos mapas, já que a navegação não é das mais intuitivas. Os belos fundos aquarelados, por vezes, dificultam a identificação de caminhos e objetivos, o que pode levar à perda de missões importantes.
Mas esses pontos não diminuem o valor da remasterização. SaGa Frontier 2 Remastered acerta ao preservar a essência do original, enquanto moderniza o que é necessário. A interface do usuário agora está mais limpa e fácil de navegar, corrigindo um dos principais incômodos da versão de 1999. Além disso, a inclusão de novos personagens e finais expande ainda mais a narrativa, oferecendo um conteúdo fresco que agrada tanto quem está chegando agora quanto os veteranos que querem reviver a história com novos olhos.
Agradecimento a Square Enix que nos enviou o jogo para a produção do review.
Conclusão
SaGa Frontier 2 Remastered é um excelente exemplo de como um clássico pode — e deve — ser tratado. Ele honra o passado com fidelidade artística e sonora, ao mesmo tempo em que se atualiza para oferecer uma experiência mais fluida, acessível e envolvente. Um verdadeiro presente para os fãs de JRPGs e para quem quer se perder em uma boa história, cheia de escolhas, batalhas estratégicas e aquela nostalgia boa dos tempos em que cada pixel contava uma história.
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