Após conquistar atenção com trailers cheios de carisma, The Knightling chega como uma carta de amor aos jogos de ação e plataforma do início dos anos 2000. Com foco em movimentação fluida, combate centrado em parry e uma jornada de amadurecimento protagonizada por um escudeiro atrapalhado, o jogo se destaca pelo seu charme, bom humor e pela forma leve como trata temas clássicos de contos heroicos.
A história acompanha o escudeiro de Sir Lionstone, deixado para trás após uma patrulha mal-sucedida. Equipado apenas com um escudo falante chamado Magnustego — dublado com perfeição por Chris Lines —, o pequeno protagonista embarca numa jornada para reencontrar seu mentor e provar seu valor. Ao longo da aventura, ele encontra relíquias, desvenda segredos e enfrenta uma ameaça ancestral que coloca o reino em perigo.
O jogo adota um mundo semiaberto, com torres que revelam o mapa e selos que destacam locais, similar aos títulos recentes da série Zelda. No entanto, tudo pode ser ignorado por quem preferir explorar por conta própria. Esse incentivo à curiosidade funciona muito bem, com um ritmo envolvente que recompensa a exploração com baús escondidos, desafios opcionais e atalhos criativos. Ainda assim, o sistema de fast travel limitado pode tornar a volta a vilas e pontos de upgrade um tanto incômoda, principalmente quando há recursos acumulados que o jogador deseja gastar rapidamente.
A movimentação se destaca bastante. O jogador realiza saltos duplos, planeios, impulsos aéreos e desliza com o escudo, o que torna a travessia do mundo prazerosa por si só. Ao escorregar por colinas, aproveitar boosts naturais e alcançar áreas secretas, o jogador sente liberdade e diversão. A árvore de habilidades focada em mobilidade reforça esse aspecto, oferecendo melhorias diretas e significativas. Além disso, a progressão mantém um bom equilíbrio: com duas árvores — uma para o escudo e outra para a movimentação —, o jogador percebe sua evolução sem precisar lidar com sistemas excessivamente complexos. As habilidades se encaixam bem, moldam o estilo de jogo e evitam, felizmente, tornar o personagem overpower.
O combate, por sua vez, gira em torno do escudo gigante que o protagonista mal consegue carregar. Lento, mas poderoso, o sistema é baseado em impacto e timing. O parry é acessível e satisfatório — com efeitos visuais marcantes e espaço generoso para contra-ataques — e existe também a opção de bloqueios com retaliação automática para quem não domina o tempo exato. Ainda assim, o combate não escapa de problemas. A constante presença de inimigos que reaparecem torna os momentos finais repetitivos, fazendo com que correr, em certos trechos, seja mais eficiente que lutar. Além disso, a presença de inimigos após pontos de respawn mal posicionados pode gerar frustração, obrigando o jogador a fugir e reorganizar o combate, o que quebra o ritmo de forma negativa.
A variedade de inimigos é interessante: há diferenças claras entre os mais ágeis e os mais blindados, exigindo abordagens distintas e incentivando a experimentação. No entanto, a insistência em respawns constantes compromete o bom ritmo construído ao longo da campanha. O jogo oferece um sistema de combate robusto e divertido, mas nem sempre parece confiar nele o suficiente para dar tempo ao jogador de respirar entre os encontros.
Um ponto alto da aventura está nos puzzles espalhados pelo mapa. A maioria deles é opcional, mas bem integrada ao mundo. Há destaque especial para os desafios com constelações, que exigem observação e interpretação em vez de lógica tradicional ou tentativa e erro. Essas seções funcionam quase como minigames independentes e trazem uma boa quebra no ritmo da exploração e do combate.
Visualmente, The Knightling adota um estilo cartunesco charmoso, com cenários variados e animações fluidas. As vilas, florestas, ruínas e cavernas possuem identidade própria e reforçam a atmosfera de conto de fadas medieval. O jogo também brilha no aspecto sonoro: mesmo com uma trilha discreta, os efeitos sonoros e as vozes caricatas dão vida ao mundo.
No entanto, nem tudo funciona tão bem no aspecto técnico. A navegação entre menus é pouco prática: não há um atalho direto para o mapa, obrigando o jogador a passar pela tela de missões antes. Pequenas decisões como essa acabam se acumulando e irritando com o tempo. O sistema de bússola também poderia ser mais preciso, já que em algumas situações os objetivos não são apresentados com clareza.
Agradecimentos a Saber Interactive que nos enviou o jogo para a produção do review!
Conclusão
The Knightling é uma carta de amor aos jogos de ação e plataforma do início dos anos 2000, combinando charme, humor e uma jogabilidade fluida com combate criativo. Seus tropeços técnicos e de ritmo não ofuscam a experiência geral, que é envolvente, acessível e cheia de personalidade. Uma jornada memorável, com alma e estilo próprio.
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